sexta-feira, 11 de setembro de 2009

o livro de zenóbia


Eu talvez seja a mulher pelada com o anel no anelar da mão direita bebendo café contra o vento. Montanhas, o pedaço de uma caminhonete azul e um sorriso encoberto. Sinto saudade do vento batendo forte no rosto, do cabelo embaraçado no fim do dia, do bambual na estrada que existe só para mostrar que as cidades podem mudar, mas alguma coisa permanece. Na hora do almoço, enquanto folheio O Livro de Zenóbia, penso na avó que eu também adotei e em como categoricamente ela sempre me presenteava com balas de leite enroladas em papel vermelho. Sinto saudade do cheiro daquele quarto que tinha na parede uma foto minha na pracinha com expressão invocada e uma mosca no chapéu branco. Mas é uma saudade com brisa, fresca como uma mordida na maçã. Sou a mulher pelada com o anel no anelar da mão direita: noiva de mim.

Foto: Ryan McGinley

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