segunda-feira, 26 de maio de 2014

De mala e cuia

Calunga cor de rosa foi minha casa virtual por uns cinco anos. Mudamos, porque assim é a vida e é natural e divino. Agora Calunga é pra passear e lembrar, e eu moro aqui: blogcondensado.wordpress.com


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Demorão ou jájão


Hoje despertei às 6h30 e depois de muito tempo sem fazer isso tive vontade de caminhar até a padaria
Já não ligo muito para a roupa que estou vestindo, ou como está o meu cabelo, ou se sujei a blusa de pera 
Caminhar é engraçado, as pernas gorduchas desconjuntadas, as dorzinhas que vêm daqui e dali e não se sabe de onde, e aquela vontade doida de arquear os pés, mas elas têm uma firmeza e uma certeza que é só delas, as grávidas e as bailarinas. 
Enquanto o mundo espera a notícia grande, você se concentra nas pequenas, no trivial, lavar a louça, passar o café. Tinha um professor que dizia que só a leitura salva mas eu acho que são as coisas ordinárias.
"Ser forte é parar quieto; permanecer", fui atrás do Rosa hoje.
"Demorão ou jájão", você vem
Você está vindo, a cada esquina você vem um pouquinho mais, a cada contração, a cada coliquinha, a cada puxada de perna, a cada noite mais ou menos dormida
*
O fim, pra mim, tem sido mais tragicômico que enfadonho. Derrubo tudo no chão, absolutamente tudo, do sabonete à tampinha da água, papel higiênico fora do lixo, e pra levantar e pegar é aquela coisa bonita, abrir as pernas pra barriga se encaixar no meio. 
Abaixar pra colocar comida para as gatas dá contração, ataque de riso dá uma espécie de contração. Sentar no sofá não é mais uma tarefa simples, requer aquecimento prévio: pelo menos cinco almofadas nas costas e um impulso na hora de levantar, por favor!
Ora me sinto uma velhinha, ora me sinto uma baleia encalhada 
hahahahaha pode rir, você
E às vezes também dá vontade de chorar, sem muito motivo, como eu fiz ontem no banho. É que é tão bonita essa travessia, mesmo com suas feiuras e incomodezas, e nós chegamos até aqui, meu grande garoto! 
até onde chegaremos mais?
*
Os irmãos já dizem oi e se despedem, "oi, Bento, tchau, bebê". A menina morena que adora verão sonhou que você era o "grude" dela e tinha olhos azuis. O garoto comprido que está pesquisando a Antiga Pérsia sonhou que você tinha olhos verdes. Como eu, quando eles sonham com você, você tem olhos claros, o que não deixa de ser curioso.  
Seu pai está leve como um passarinho, canta e dança pela casa à tua espera. Semana passada comprou champanhe no nosso dia mais duro - vai que ele vem hoje!, e dias depois foi a minha vez de providenciar dez taças descartáveis. 
A avó materna, já incansável no papel de avó que cuida e provê, se diz "pronta para ser avó, e calma". Ela está também eufórica de felicidade. Bento, se prepara!
A bisa Teresinha comentou com a tia Célia, que na última quinta-feira encheu os olhos de lágrimas fazendo carinho na minha barriga, que a neta está na fase do armário, "quando você entra no armário e quer ficar quietinha".
É que quanto mais me concentro, mais eu te sinto.
*
Me diziam que os últimos meses de gravidez eram iguais aos primeiros, mas definitivamente a gravidez é sem regras, pra mim eles foram desenhados de forma bem diferente.
No entanto se há um afluente entre esses dois rios, o do começo e o do fim deste país que é a gravidez, é a necessidade de aquietar e permanecer. 
*
Dentro de mim, você é ora peixe ora passarinho, sinto suas barbatanas se agitando e suas asas batendo, sinto sua vontade de vir, e de ficar mais um instante.
Tem coisa divina nesse exercício de esperar, será hoje, será amanhã, será só daqui a três semanas, pois possível é. Se não tem história igual, como será a nossa, o que vai acontecer primeiro o bolo vai cheirar ou o garfo sair limpo?
Anteontem eu consegui fazer pela primeira vez um clássico bolo de cenoura, sabor familiar, igual a ele já se fizeram milhões, e foi uma alegria maior do que ter inventado uma receita inédita que ninguém nunca sonhou em fazer. 
Eis o que quero, quero sumir na multidão, quero o clássico e o igual, quero simplesmente fazer o que fazem as mulheres há milhares de anos: parir.

foto: para honrar o fim, o começo. créditos: jb/agência passarinho







quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

rituais, renascimentos e nascimento


Vim de uma família muito ligada a rituais e, como é comum acontecer e em certa medida saudável, quando eu cresci eu os neguei. 
Nos últimos anos, fui me desapegando de todos eles, um a um. Ritual do aniversário, do casamento, do Ano Novo. 
Foi libertador descobrir que nada precisa, pular onda não precisa, papel passado não precisa. Foi especialmente curativo pra mim, que cresci com um glossário mental de duras condições e proibições a mim mesma criado por ninguém menos que moi-même. 
Aí este ano e disso me dou conta só agora, me reencontrei com os rituais a partir de um outro lugar.
Aconteceu em abril. Eu e ele resolvemos registrar nossa união de três anos em cartório por uma mera questão burocrática, o seguro saúde. 
Fomos ao cartório desencanados, tomamos um café ruim na recepção e lembro de estar sendo divertido. Na hora de declarar desde quando vivíamos debaixo do mesmo teto, nenhum dos dois sabia precisar, então inventamos uma data, 20 de maio de 2010, e assim consta no documento. A mulher que nos atendeu tinha a foto de um bebê bochechudo e rosado no fundo de tela.
Tudo declarado e assinado, saímos daquele cartório na rua dos Pinheiros com uma sensação diferente que, pra mim, teve a ver com preenchimento. O fato é que fomos os dois tomados por uma súbita felicidade, simples assim, então a gente se olhou e disse: "Vamos sair pra jantar hoje?". 
À noite, subimos a Fradique a pé de mãos dadas e comemos e tomamos uma taça de vinho no AK. Sem saber de nada, eu já estava grávida. 
Nós casamos e engravidamos na mesma semana, e foi tudo tão livre, gostoso e curtido que se depois desses episódios eu não fizesse as pazes com os rituais aí é que seria estranho. 
Aprendi com isso que rituais são ótimos quando escolhemos fazê-los do nosso jeito e no nosso tempo.
Também me considero uma pessoa de sorte porque estou cercada de uma família que, apesar de me achar um tanto quanto excêntrica, me respeita e até me ajuda a lembrar quem eu sou. 
Quando resolvi fazer o chá de fraldas do Bento, por exemplo, a tia Carlota encheu a casa de manjericão, salsinha, alecrim e flores do campo em vez de majestosas orquídeas, sem que eu expressasse nada. Acho que nem eu mesma sabia que essas eram as flores perfeitas pra gente naquele dia.
Nesta segunda-feira minha mãe estava às 10 da noite no Extra atrás do "caldeirão do Bento" e ontem de manhã meu irmão me mandou uma foto via whatsapp, de uma Americanas, "é essa a piscina?". 
Meses antes de nascer, nosso menino já tinha padrinho e madrinha escolhidos. Eu me lembro de, uns dois anos atrás, nem cogitar batizar um filho. Mas hoje me pareceu natural e bonito fazê-lo.
Eu só me pergunto: se eu não tivesse conhecido o gosto dos rituais, se eu não tivesse sido levada a batizados, casamentos formais, missas, se não fossem as intermináveis Ave-marias da meia-noite do dia 24 de dezembro na casa da vovó, as sete-ondinhas puladas à meia-noite todos juntos no sal e no escuro, mais de uma década de domingos comendo as mesmas polpetas e balas de leite maravilhosas, será que eu seria capaz de recriar rituais? 
E não são paradoxalmente esses mesmos rituais os responsáveis por algumas das melhores lembranças da minha infância?
O legal é pegar as receitas dos rituais que te interessam e personalizá-las, acrescentando a elas pitadas daquilo que faz o prato encher de sabor pra você. Se achar alguém que tenha o mesmo paladar, melhor ainda. Não importa que seja incomum, estranho ou até trivial. Ontem mesmo ele disse "não tenha medo da margarinização dos sentimentos, às vezes eles são assim mesmo".
Taí uma coisa que eu não tenho, nunca tive, gosto do que é piegas, gosto das flores no cabelo da Tetê-Para-Choque-Para-Lamas, sou ranchera e ainda vou conhecer o México, como leite condensado até hoje de colher apesar de genuinamente amar jiló, o que considero meu mais alto pico na escalada da sofisticação das papilas gustativas.
O Natal. Eu adoro o Natal, sou minha mãe escrita nesse quesito, nunca deixei de adorar e vou adorar sempre. Jingle Bells, filme de Natal, cheiro de pinheiro, 25 de março cheia, trânsito, decorações cafonas, peru, Papai Noel, as castanhas portuguesas assadas da Neri que não existem mais.
Mas o que eu queria mesmo dizer é, é Natal e estamos na iminência de ganhar o melhor presente de todos os tempos: vamos receber nosso filho. Não posso imaginar reconciliação mais bonita e definitiva com os rituais.
*
Gracias a la vida, que me ha dado tanto!
*
Feliz Natal, meus queridos!

Trilha sonora do post: Take me as I am, do Au Revoir Simone: http://www.youtube.com/watch?v=Lu5LxBPbqSc







sexta-feira, 29 de novembro de 2013

e lá vão oito


Se você vai gostar de jabuticaba como eu, ou melancia como ele
Se você vai gostar de jaca, como eu e tão poucas pessoas que eu conheço. Uma vez comprei umas amarelinhas na feira que escorregavam na boca e estavam tão doces, filho. "A melhor que tem é a amarela, acabou de ser apanhada, é difícil achar", disse o feirante. E era verdade!
A verdade é que você vai ter suas frutas preferidas, um gosto pessoal e intransferível para tudo e ele vai ser naturalmente diferente do nosso.
Às vezes eu imagino a cor dos seus olhos e do seu cabelo, seu jeito de olhar, o ritmo do seu sono, a sua personalidade. Claro que tenho sensações e palpites, muito metida como toda mãe acho que de você já sei muita coisa. 
Mas a verdade é que penso nessas coisas bem menos do que achei que fosse pensar. No fundo do meu coração elas não têm a menor importância. Só têm importância eu te sentir bem, te sentir mexendo, te sentir conectado.
Eu só te amo. Amo ter você morando na minha barriga, amo sentir você se mexendo, amo as contrações, amo a falta de ar. Porque são conquistas nossas. Porque um dia você foi só uma ideia, noutro você virou semente de gergelim e agora você é um bebê pequenininho. Daqui a pouco você vai ser bebê prontão, um dia vai ser menino, menino grande, rapazinho, homem e esse é o ciclo certeiro da vida. 
Anteontem eu entrevistei um cara que disse coisas tão legais sobre a vida. "Não tenho a intenção de que esse negócio dure pra sempre". "Você acelera uma árvore? Por que acelerar uma empresa?". "A vida é cíclica". 
É como a gravidez. A gravidez é cíclica, a gravidez é outro tempo, um tempo sem espaço para a aceleração e com muito espaço para o relaxamento. Um tempo rico em significado, e eu espero levar tudo isso junto comigo quando você fizer check out.
É muito doido e lindo como o nosso corpo vai se adaptando às transformações. E como a energia vai mudando, mês a mês, semana a semana. 
Mas espera, nada dói, nada incomoda, tudo cor de rosa? Claro que tem incômodo, tem chatice, tem irritação, tem briga, tem falta de sintonia, tem aflição. Mas acho que se você aceita a natureza das coisas, sem querer acelerar ou desacelerar nada, tudo fica mais fácil. 
*
Cinco meses depois de aterrissar em Moema e desviar para a Augusta, quero flanar. Gastar o tempo regando as flores na varanda, apreciando o novo grafite da fachada, fazendo bolo para os queridos, observando as gatas beberem água, revelando fotos, quero saber o que ele está sentindo, quero namorar.
*
Semana que vem vai fazer 36 semanas que estamos juntos nessa empreitada, oito meses completos. E quando ela chegar ao fim, significa que o sinal está verde pra você chegar quando bem entender. Isso me dá muita emoção e gratidão. É como pensar no seu parto. Eu penso e me emociono, choro. Choro onde for, no trabalho, no ônibus, na rua.
Agora quero fazer só o que faz sentido fazer agora: esperar você. As pessoas dizem que o último mês dura uma eternidade, que é melhor a gente não ficar muito à toa porque senão o tempo não passa e a ansiedade vai à mil. 
Mas eu não ligo, eu não vejo a hora de ficar à toa só esperando você, e suspeito que, mesmo sem meta e horário pra cumprir, serão os dias mais atarefados dos últimos tempos.


foto: Flor da Madrinha/Paula Desgualdo


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

felicidade


Eu me sinto tão feliz
Eu não sei desenhar essa felicidade, mas um dia me veio a imagem de uma bola que vai crescendo e se expandindo dentro de mim, o que não deixa de ser literal.
Me sinto um pouco o Cat Stevens quando parou a música e confessou que não lembrava de sua própria canção, pedindo ajuda ao teleprompter. "A opinião dos outros já não é o que importa mais e sim sua própria satisfação pessoal", como escreveu o Jota.
Não sinto nada diante de um sério problema corriqueiro, não me tiram mais do trilho. Amo todos os domingos, até os muito quentes, e todas as manhãs de segunda-feira. Amo a tosse seca insuportável que me acompanhou por 15 dias. Amo os quartos de bebês mais bobos. Amo até minha forma mais feia, minha explosão mais sem sentido. Amo tudo indiscriminadamente. Paz e amor, 70's total, chá de cogumelo, também magia e meditação, Legião Urbana, amo tudo, aceito tudo. 
Você está aqui, você está dançando dentro de mim. Se eu toco a barriga você chuta bem naquele pedacinho que eu estou tocando, e por essa generosidade sempre lhe serei grata. 
Bebê generoso, agitado, mas não agitadiço, bebê que não mexe depois de um chocolate, mas mexe muito com rabada. Me faz comer pimenta, sonhar com um escondidinho de linguiça e trocar sorvete de chocolate por limão. Bebê que dançou o tempo todo no show do Cat Stevens.
A gente vai fantasiando. A gente vai sentindo. 
Nessa semana nasceram muitos bebês. Nasceu o menino da Jana, chegou o tempo dele, finalmente, depois de a mãe ter insistido algumas vezes "vem, nenem, vem". Chegou a princesa cabeluda da Lelê. Imagine só que há duas semanas encontrei a Lelê na porta da Galeria Ouro Fino, com aquela barriga pontudona que agora é Luisa. É emoção demais.
Às vezes sinto que você já está aqui fora. Hoje no almoço com seus avós no Paulistano você entendia tudo. Principalmente de manhã, na hora de acordar, sinto a sua presença deste lado aqui muito forte. Ontem à noite, subindo as escadas para ver o móbile no quarto, senti cheiro de nenê!
"Take it slowly", canta o Cat. Há 15 dias fiquei sabendo que alguma coisa já começou. E venho conversando com você, com carinho, te pedindo pra esperar um pouquinho. Não que precise pois eu acho que quem mais entende tudo de ritmo e timing neste trio é você.
Quanto mais se aproxima a sua chegada, mais feliz eu me sinto e esse é um sentimento involuntário e blindado, sem cor nem som, que tem raízes mas voa.
Eu não sei de nada, filho, só sinto e fantasio, mas quando chegar a hora de você dizer "I know I have to go away", é nesse lugar que eu quero estar.


foto, produção e engenharia da foto: dad

trilha sonora do post: "Father and Son", de Cat Stevens



segunda-feira, 28 de outubro de 2013

anotações e céu na parede


No sábado em que batizamos nossa casa nova com os salve-salve dos amigos, as meninas do Paulo chegaram bem perto da minha barriga e com a maior naturalidade do mundo bateram um papo com você, te chamando de "Bichano".
Eu ri muito e desde então te chamo de Bichano às vezes. 
*
Dia desses tava almoçando com a Marly quando a Fernanda, do coworking Pto de Contato, passou pela nossa mesa e disse "Oi, meninas. Oi, Bento". Que delícia! Passei o dia lembrando disso e sorrindo. Foi como se você já estivesse ali, sentado com a gente.
*
Você reconhece o barulho do liquidificador. Toda vez que eu vou bater um bolo ou um suco e ligo o liquidificador, você começa a chutar. Eu dou risada e falo "rapidinho, Bento, só mais um pouquinho", e protejo a barriga com uma das mãos.
*
No sábado, durante uma gravação de vídeo em Santa Gertrudes, no interior de São Paulo, entrevistei uma garotinha que coleciona livros. Ela foi logo me mostrando qual era o mais precioso de sua coleção, o primeiro, segundo a mãe o livro que fez com que a filha acreditasse que já era capaz de ler. O nome: Bento, A abelhinha
Na despedida, a família toda no portão, a mãe gritou: "Avisa quando o Bento chegar!".
O livro, fotografei todas as suas três páginas, e sua avó quer procurá-lo em sebos.
*
Quase todos os dias, na Galeria Ouro Fino, a doce faxineira que eu gostaria que tivesse apelido pois o nome diferente não registro, pergunta de você. "E o Bento?", "Oito horas e ainda aqui? Hãn", "Cuidado com esse menino, não corre!". Agora, na cozinha, ela perguntou: "E o Bento, mexendo muito?". Muito, o tempo todo, é um bailarino, cada dia uma nova coreografia!
*
Cada dia que passa aumenta minha vontade de te apertar, te segurar no colo, te alimentar, te conhecer. Mas sem pressa, sem ansiedade. Aquela sensação gostosa de a festa tá chegando, mas ainda demora, dá tempo de sobra pra gente se preparar pra ela, achar o vestido e decorar o salão, e se pudesse escolher a data ela seria exatamente no dia que é, nem antes nem depois.

foto: o céu azul granulado cor de lagoa mágica que aguarda Bento

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

primos e raízes




Hoje a Luiza, que está naquela fase do "não" e sempre foge aos meus abraços, espontaneamente me cutucou e disse: 
"Eu acho que o seu bebê vai adorar você"
Me agachei e fiquei lá acompanhando a refeição dos três, na minimesa na casa da bisa Teresinha. Julia lambuzada de macarrão com molho branco, uma legítima integrante da minha família. 
Daí o João Pedro me ofereceu sua última coxinha.
Luiza e João Pedro, querendo me matar de amor?
Entendi que não era comigo, não, Bento, era com você que eles estavam falando, era pra você aquele carinho todo. 
Crianças têm uma sensibilidade diferente da gente comum em relação a uma mulher grávida. 
Elas podem estar cansadas, sonadas, irritadas, mas basta você aparecer e falar que tem um bebê aqui na minha barriga que elas ficam calminhas e te olham como que hipnotizadas.   
Eles são seus primos, filho. As roupinhas que você vai usar, os sapatos, as naninhas, a cadeirinha, o colchão, tudo um dia foi usado por essas brilhantes pessoinhas.
Você já nasce com coisas significadas que serão ressignificadas por você. Você vai inventar uma nova história para elas. 
Será que o Antonio abriu seu primeiro sorriso usando aquele macacão branco? Que o João tomou seu primeiro banho de mar com aquela sunguinha? Que a Joana deu seu primeiro passo no dia em que calçava aquela sandália?
Sétimo, você é o sétimo bisneto da incrível vovó Teresinha e o quadragésimo neto de João Francisco de Medeiros, o lendário Paraíba de Cianorte. 
Como qualquer ser e como nenhum outro ser, você nasce com duas raízes, trançadas num lar só. 
Eu acho que o meu papel, como escreveu com perfeição uma amiga essa semana para sua mãe, é te dar amor bastante para que seu pequeno coração possa passear seguro por este mundo afora e, a partir de suas raízes, plantar suas próprias flores.

foto: Jotabê Medeiros/O Pai