quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Viva, viva!
A banda com quatro simpáticos integrantes passa na rua Urimonduba cantando Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo. De cima, da varanda, alguém enche o pulmão e grita: "Feliz Ano Novo!". Então os músicos, sem a intenção de parar e tocar em frente ao prédio por falta de ouvintes param e tocam a música para ela, que pensa em correr e buscar uma das rosas que comprou para deixar a casa florida, mas só consegue ficar ali, imóvel, a água descendo dos olhos e, no coração, um bastante sim.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
2008
A melhor surpresa do ano veio no dia em que decidi que não queria mais surpresas
O melhor banho de chuva foi em Cordisburgo
O momento mais surreal foi a noite na pensão de 10 paus de Confins (ou foi esbarrar em um magnífico Guignard enquanto cantava Parabéns? Ou foi ter chegado tão perto da Maduxa?)
O beijo mais doce foi na frente da igreja de Nossa Senhora do Ó
A risada mais gostosa foi num bar que serve a caipirinha mais vagabunda de Pernambuco
A gargalhada de fazer doer a barriga foi no restaurante da Valdeca, na Ilha do Cardoso
O doce mais divino foi o doce de leite da vovó
A reportagem mais bacana de fazer foi a do quiabo
A melhor comida, a berinjela com queijo gorgonzola
O dia-zica foi o dia em que roubaram o carro, em agosto
A constatação assustadora: não estou nem perto dos 28 e o ascendente Áries já desponta com força
O show espetacular foi o da Teresa Salgueiro no Teatro Municipal
O show mais malucaço foi o Justice no Anhembi, a música mais malucaça foi a do Medeski, Martin & Wood no Bourbon Street
Cansou de tocar no rádio (porque não tenho i-pod e por enquanto não sofro de i-podsick) Amy Winehouse
Demorou, mas aconteceu: me rendi à Sex and the City
A descoberta musical do ano foi a Keren Ann
Tocou fundo a versão dos Mutantes de Balada do Louco
A música mais deliciosa do ano é Instead, da Madeleine Peyroux
O passeio mais bonito foi na lagoa Rodrigo de Freitas
A compra mais útil foi o tênis da Bangoo
A compra inédita foi numa manhã de sábado no Bom Retiro, em família
A meta parcialmente cumprida foi a de aprender a gastar o que se tem
O arrependimento foi ter mudado a operadora do celular
A mudança mais sem cara de mudança foi a mudança de casa
A lua mais bonita é a de um sítio pertinho de São Paulo
A melhor dança foi na fogueira, em Pedra Bela
O sono mais tranquilo, depois da fogueira
O momento mais triste foi a despedida no campo de golfe
O melhor livro foi Os Componentes da Banda, da Adélia Prado
O presente mais lindo foi a foto do desenho no guardanapo
O filme do ano foi Vicky Cristina Barcelona
A cena fofa foi meu pai ensinando um papagaio do prédio a assobiar
O café mais especial foi na Starbucks do Kinoplex
O santo remédio para dores diversas continua sendo coca-cola
domingo, 28 de dezembro de 2008
tutti della stessa famiglia
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Vai, vai, balão
Mapa
Eis a carta dos céus:
as distâncias vivas
indicam apenas
roteiros
os astros não se interligam
e a distância maior
é olhar apenas
A estrela
vôo e luz somente
sempre nasce agora:
desconhece as irmãs
e é sem espelho
Eis a carta dos céus: tudo
indeterminado e imprevisto
cria um amor fluente
e sempre vivo
Eis a carta dos céus: tudo
se move
(Orides Fontela)
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Madonna
Fui ver la Madonna no Morumbi e, por uma dessas chacotas do destino, cheguei muito perto do palco.
Uma mão segurando a máquina, a outra encostando nas costas das pessoas. Fui desculpando-me pelo incômodo de desejar passar na frente, mas pedindo por favor para que me deixassem. Um rapaz não permitiu de jeito nenhum, virou uma parede de cimento daquelas que nem papel conseguiria mandar demolir.
Uma hora eu não sabia mais para onde estava indo, o peso da máquina só era menor que o peso do coração na boca. Tem policiais aqui? Céus! Era a segunda fileira.
A mulher pintada bem na minha frente, com seus cabelos frisados, as pernocas definidas, os olhos impecavelmente delineados. Dezenas de pessoas assistem ao show pelo visor de suas máquinas digitais emocionadas, gritando as letras em um inglês de deixar a professora da Cultura Inglesa orgulhosa. Há muitos, muitos homens. E todo mundo está sorrindo.
Um senhor simpático me levanta algumas vezes. "Depois você me manda as fotos? Quero fazer um pôster". Minha bateria está acabando, às vezes falha, testo se está funcionando fotografando o chão. Entre um click e outro, desligo, para economizar. Uso o ombro de um garoto como apoio para a foto não sair tremida enquanto procuro espaço entre os braços erguidos e as numerosas câmeras.
De repente lembro da hora. Eu sei que devo sair, mas a vontade é de ficar, esgotar as forças, derreter ali. Não pelo show, não pela Maduxa com seus passos ensaiados, hábil dançarina, a voz ora firme ora esganiçada e a inesgotável energia (tudo muito válido). Quando você se emociona com a platéia e não com a cantora, algo parece estar fora do lugar.
No dia seguinte voltei ao Morumbi sem a parafernália para ver, enfim, o espetáculo monumental, comer o último doce do bilionário pacote.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
A última bolacha do pacote
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
O físico
Entrei no carro 15 minutos atrasada, pedindo desculpas pela espera. Na hora, senti que ele tinha uma presença boa. A voz calma, uma certa doçura. Lá pelas tantas, depois que seu telefone tocou e eu demonstrei me incomodar com uma leve grosseria da pessoa que ligava, ele deu uma risada gostosa e disse que aprendeu a não dar trela para esse tipo de coisa. Como? "Metafísica". Simples assim? "Mudou minha vida, sem brincadeira. Eu tinha uma doença, tomava um monte de remédio, sofria, sofria, e quando entendi que nossa mente tinha tudo a ver com o que acontecia com nosso corpo, tudo mudou. Nem gripe tenho mais".
Eu lembrei do Aprígio, vendedor de milho que afirmou não ter gripe nunca porque come muito milho e milho é bom demais para a saúde (e eu não fico gripada há séculos, acho isso um tanto estranho, mas as dores na cuca não me largam).
Aí o cabra desatou a falar sobre metafísica, e de repente disse que também gostava muito de numerologia. "Você, por exemplo", falou, "sua alma é 9", e procurou com os olhos o papel onde estava escrito o meu nome. "Já sei, por exemplo, que você é uma pessoa muito solidária, que se doa, e por isso perde muita energia às vezes". Juro. E explicou mais uma série de coisas, "você tem muito número tal no seu nome, o que indica que é uma pessoa comunicativa, expansiva".
Chegamos ao Mercadão em tempo recorde, ele achou um lugar para estacionar bem na frente, encontrei as melhores bolinhas de wasabi, comi uma jabuticaba que estava um mel e o encontro com os vendedores da r. Santa Rosa foi bacana pra caramba. Que manhã esquisita boa.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Doce
Hoje quando acordei e fui sentar no sofá para ler jornal, achei o pinheirinho lá da sala gordo de enfeites. E minha mãe apareceu com seu notável bom-humor matinal perguntando se nossa árvore de Natal não estava bonita.
- Eu comprei três anjinhos, filha. Esse, esse e esse - ela apontou - Qual você quer ser?
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Dibujo
A moça tem 25 anos e é finlandesa. Estudou moda na Universidade de Arte e Design de Helsinki (a capital da Finlândia), só que percebeu que sua praia era ilustração.
Desistiu de desenhar, costurar etc e tal, e nunca sentiu saudade. Mas as passarelas continuam sendo para ela uma grande inspiração, o que fica evidente em seus trabalhos.
Confessa que sabe pouco sobre a moda daqui. "Eu já ouvi falar do Alexandre Herchcovitch, ele é brasileiro, né? Eu gosto bastante de umas coisas dele", diz Laura Laine, que começou a desenhar desde o momento em que segurou pela primeira vez uma caneta.
E essa é a Laura, em versão obscura e cool ― palavra que ela usou para agradecer o post (qualquer semelhança com o desenho acima não é mera coinciência):
*Mandei por e-mail umas perguntinhas para a Laura, e hoje (17) ela me respondeu. Post atualizado.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Pontilhado
Hay veces. Às vezes sou amarela, clara. Amarelo-claro, uma cor que ninguém usa. Às vezes sou mancha, ladrilho sujo pela chuva que passou. E ninguém limpou (eu não limpei). Às vezes sou curva, duas vezes azul, traços rodopiando descontroladamente feito bailarina aprendiz. Piscina. Às vezes sou como o chão da piscina, flutuante, às vezes só consigo ver usando as lentes da água. Às vezes não dá pra pisar, às vezes faço um risco aqui, outro ali, e paro no meio. Sou xadrez. Às vezes soy roja, e o contorno é tão nítido como a lua no céu de um sítio. Às vezes viro uma página em branco, um ladrilho virgem de cor. Às vezes desenho uma, duas, três flores, e faço uma só nascer. Sou mandala, redonda. Às vezes sou só a linha que passeia pelos ladrilhos gastos de ouvir. Às vezes acho que o vir-a-ser está aqui, mas ele mora longe, numa casa muito engraçada, sem teto, sem nada. Ser-a-vir. Às vezes sou poltrona macia e furada. Cadê? Às vezes coloco todos os ladrilhos na parede, e se falta algum vou à loja da Turiassú buscar. Às vezes vejo e guardo (o banheiro pode precisar de mais um). Às vezes deixo-me quebrar, quero a nudez das lascas. Às vezes escrevem em mim e faz cócegas. Às vezes me fixam na parede, me chamam de número, me apontam nas ruas. Às vezes sou os quadradinhos todos amontoados, sou um chute, um estalo, fogos de artifício. Um pontilhado de ladrilhos sem ponto de partida nem chegada, traçado todos os dias.
sábado, 6 de dezembro de 2008
Furto
O Dennis, amigo querido, não é fotógrafo, só que leva muito jeito para a coisa. Sempre achei suas fotos bacanas, mas acabo de entrar num link com as mais recentes e... caramba! Espero que ele não se importe: descaradamente roubei várias, aquela coisa ctrl c ctrt v, pronto, na minha pastinha! Pretendo abusar delas todas.
Foto: Dennis Wang
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Enchanté
"You know, happiness has many colours”, ela disse, já no fim da apresentação, e trouxe uma canção sobre “breaking up”. Smile, it’s ok. Faz tudo parecer leve, a Madeleine, apesar de cantar com acuidade canções incrivelmente tristes.
De cabelão longo aloirado, ela abriu o show com Instead, música de seu novo disco, Bare Bones. Instead é deliciosa, parece que fica tocando o show inteiro, nas entrelinhas. “Be happy that she’s your home”, ela canta, e eu penso: como eu gosto da nossa casa.
Depois veio Bare Bones. Don’t cry, baby, don’t cry. Era tristinha a letra, mas tive vontade de rir. Ri. “O que?”, a Vivi perguntou na hora. Até agora não tenho idéia.
Uma funcionária da limpeza observava, quase hipnotizada, encostada na parede com a vassoura em mãos, Madeleine Peyroux pronunciar com perfeição enchanté, embalada por palmas e gritinhos da platéia (tinha uma garota um tanto quanto histérica, um rapaz nada educadamente pediu para ela calar a boca).
O pessoal se empolgou muito com a Madeleine francesa. “Ah, l’amour...” – uma frase batida que, na boca dela, não tem nada de banal. Talvez porque a felicidade de Madeleine não seja óbvia, digestiva, ela não está interessada em servir ao público um p.f de lições sobre o amor. Tem algo de selvagem, arisca, parece o tempo todo meio incomodada.
Tira e põe o chapéu, diz mais de uma vez "saudade" e esforça-se para elogiar a platéia em português. “It’s too much”, diz. Em seguida, ela mesma traduz. “É demais!”. Não é a tradução mais correta, mas é, sem dúvida, a mais graciosa.
Fechou o show da maneira como abriu, com Instead. Se alguém não entendeu o recado, Madeleine reforçou com o bis: Smile.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Ai de mim
Foi assim: num domingo à noite uma ligou para a outra e as duas concordaram, meio por inércia, em tomar uma cervejinha no boteco do bairro. Mas não era um domingo com potencial para o comodismo e o mal humor do garçom do boteco do bairro foi substituído pela porção de lulas fritas do bar da Augusta. Antes da comilança, porém, uma cutucou a outra e juntas apontaram para o que parecia ser uma loja, lá embaixo, acesa às 9hs da noite de domingo. Vamos dar uma olhada, né?
As duas, enlouquecidas, circulam pelos cubos brancos onde estão acomodadas as peças, os brincos, os sapatos, as bolsas. Uma tiara xadrez, saí de lá com uma tiara xadrez e certa de que voltaria em breve. Só não sabia que tão em breve.
Contei a história para outra amiga, que contou para outra amiga, e lá fomos nós para a lojinha, um trio, no domingo seguinte. Agora com mais calma, enlouqueci novamente. Desta vez, parei num cubo cheio de camisetas divertidas, provei várias e saí com uma sacola humilde, de novo. Aquietei.
Bom, daí que hoje eu recebo um e-mail com o título "Alguns Tormentos na Casa dos Criadores".
Sabe-se lá por quê eu decido acessar www.algunstormentos.com e lá estão elas, as blusas, todas as cores, todas as estampas. "Crie sua própria camiseta!", eles sugerem. E vejo ainda uma versão listrada da minha Amy. Que indecência! "Ahhhhhh", me diz uma das amigas que sabe o infortúnio que será negar a existência desse site. Mas a gente nega porque é assim que as coisas são. E a gente posta pra aceitar a compulsão (e guardar o link da marca para uso futuro*).
* é a segunda vem no dia que me vem à cabeça uma expressão do Walt Whitman. Mais cedo, no trânsito, a caminho do jornal, pensei: "que calor faz hoje nesta cidade populosa!". Saudade dele.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Diciembre, mamma mia!
Hoje tem festança. Dia de usar vestido verde e de sentir friozinho na barriga: vou subir no palco. Acho que a última vez foi na formatura, cismei em usar meu vestido longo florido. Ficou maior que a beca, minha mãe fez cara de mãe e disse "ô, filha!", mas achou graça que eu sei.
Hoje é dia de Prêmio Paladar!
E um pedaço do coração vaisimbora, mas volta. Já apressei o relógio.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Saco de guardar sapato
Eu adoro sair por aí tirando fotos. Seria mais prático se tivesse uma máquina bacaninha pequena, mas já me acostumei a levar a grandona para tudo quanto é canto.
Comecei a fotografar mais depois que fui pra Cordisburgo com uma máquina emprestada da PUC, fiz umas fotos da doceira d. Xêra e saiu em uma matéria que publiquei no jornal. Uau, fiquei feliz da vida. A d. Xêra na pagininha com sua cesta de figos cristalizados, sorrindo, olhando para os doces.
Até hoje não sei como o professor me emprestou a máquina (a Eulina, assistente, ficou indignada, não acreditava), eu não fui em suas aulas o que se pode chamar de uma aluna exemplar (gostava de fotografar, mas passar horas naquela salinha escura apertando mihões de botões em uma determinada ordem, em um determinado tempo não era minha praia). Pois emprestou, e meses depois resolvi comprar uma igual. Teve também a história da astróloga. De acordo com seu mapa, ela disse, você deveria seria fotógrafa ou cineasta.
Fui em uma manhã de sábado até a rua 7 de Abril, no centro, uma manhã dessas libertárias porque a gente decidiu que era. Não errei o caminho, nem para ir nem para voltar.
No domingo, meus pais me levaram até a Praça do Pôr-do-Sol e estreei a bichinha.
Um ano pagando, um quase-roubo, areia, areia, que botão é esse? que que eu fiz?, sorrisos, beijos os mais doces e um saco de guardar sapato.
- Pai, onde eu guardo a máquina? Aquelas mochilas são muito caras.
- Guarda num daqueles sacos de sapato, sabe?
- Pirou, pai? Claro que não.
Depois:
- Professor, sabe o que eu notei? São caras as bolsas para guardar máquina. O que eu faço?
- Guarda num daqueles sacos de sapato.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
o barba azul
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Luiz
Encontrei o Luiz no Brás, perto da Rua dos Trilhos. Fui até ele e fiz a pergunta óbvia. Você é um Papai Noel? "Não", ele responde, "não é fácil". Mostra um papel com o nome de um jornalista que teria prometido entrar em contato, depois explica que seu sonho é aparecer em algum programa televisivo, e volta à história do jornalista. Não entendo muito bem o que diz, e suspeito que antes de eu chegar ele remexia no lixo da rua. Você tem telefone? Luiz mostra seu r.g. Mas onde você mora? Ele me explica que dorme em um lugar ali perto, parece ser uma espécie de albergue. "Não é fácil conseguir trabalho, as pessoas estranham minha aparência", diz. Eu sei que não adiantaria, mas abro a bolsa e ofereço uns trocados, enquanto não consigo arrumar pra ele um emprego de Papai Noel, penso. Ele recusa. Fala novamente algo sobre o jornalista e, sorridente, posa para foto, segurando com uma das mãos sua identidade.
domingo, 23 de novembro de 2008
Verdes
"Acho que eu nunca ri desse jeito com um livro", disse a Manô, depois que eu soltei uma risadona pela terceira ou quarta vez enquanto me deliciava com Os Componentes da Banda, da Adélia Prado. Nós duas esparramadas no sofá florido do sítio.
Então lá fora o sol só parecendo fraco avermelhando as bochechas, as crianças pulando na piscina e fazendo água voar por tudo quanto é canto e eu pensando 'não vou reclamar, era muito chato quando os adultos reclamavam'. E Violeta me diz:
"A Mirna Costa arrumava, arrumava, escovinha nos cílios, pó no nariz, lápis contornando a boca, como se fosse casar, 'você não vai passar nada?' Adorava sair de cara lavada, fazendo par com a Mirna Costa, toda confeitada. 'Feliz de quem Deus quer bem', ela dizia me olhando desapontada, 'arrumei tanto e não realço nada'. Me observava procurando o segredo. Já naquele tempo sabia: se me aplicar a ter olhos verdes, terei. Acredite quem quiser, não gasto mais força provando nada a ninguém. Bibia falou um dia desses, nós duas tomando sol: 'mãe, deixa eu ver, a senhora tem o olho verde?' Olho pras coisas com olho verde e assim eles ficam. Acontece só quando estou feliz, o que ultimamente ocorre com muita regularidade".
Eu ri, mas dessa vez foi graça que faz cosquinha, envolve delicada e fica, fica, macia. Vento gelado no pescoço em dia escaldante. Graça que pinta sorriso de canto de boca e toma conta de todo o resto.
Então lá fora o sol só parecendo fraco avermelhando as bochechas, as crianças pulando na piscina e fazendo água voar por tudo quanto é canto e eu pensando 'não vou reclamar, era muito chato quando os adultos reclamavam'. E Violeta me diz:
"A Mirna Costa arrumava, arrumava, escovinha nos cílios, pó no nariz, lápis contornando a boca, como se fosse casar, 'você não vai passar nada?' Adorava sair de cara lavada, fazendo par com a Mirna Costa, toda confeitada. 'Feliz de quem Deus quer bem', ela dizia me olhando desapontada, 'arrumei tanto e não realço nada'. Me observava procurando o segredo. Já naquele tempo sabia: se me aplicar a ter olhos verdes, terei. Acredite quem quiser, não gasto mais força provando nada a ninguém. Bibia falou um dia desses, nós duas tomando sol: 'mãe, deixa eu ver, a senhora tem o olho verde?' Olho pras coisas com olho verde e assim eles ficam. Acontece só quando estou feliz, o que ultimamente ocorre com muita regularidade".
Eu ri, mas dessa vez foi graça que faz cosquinha, envolve delicada e fica, fica, macia. Vento gelado no pescoço em dia escaldante. Graça que pinta sorriso de canto de boca e toma conta de todo o resto.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
just a little yellow basket
Fiquei com A Tisket A Tasket na cabeça desde que uma cantora me disse que a música da Ella Fitzgerald fez com que se apaixonasse por jazz.
Nunca tinha escutado, aí achei esse vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=XUYpUogn91U
Que delícia!
No mesmo dia, li numa revista antiga de música, a Compact Disk, uma matéria sobre a Ella e a Billie Holiday. Sobre Ella, dizia lá: "impossível achar defeito até usando uma lupa a laser".
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Parto
Antes de dormir, resolvi fuçar umas pastas antigas que ficam na última gaveta do armário. Escolhi a azul. Eu sei tudo o que tem dentro de cada pasta, mas às vezes é bom me lembrar.
Fui virando os plásticos velhos, alguns rabiscados, e tirei de um deles um papel pequenino onde estava escrito, com caneta cor-de rosa e letra de forma meio torta: sonhos.
"No dia 29/12 eu sonhei que meu cabelo estava sendo arrumado por uma moça que ainda não descobri quem era. Eu pensei que meu cabelo não ia ficar tão comprido, mas ficou e eu estranhei, mas fiquei feliz. Eu pensei que ficaria liso, mas ficou todo ondulado, mesmo assim gostei".
Eu achei a maior graça. Tinha mais outros dois sonhos anotados e depois, numa outra folha, as duas unidas por um grampo enferrujado, uma data. São Paulo, 23 de setembro de 1999. Embaixo, eu começo a contar que há tempos gostaria de escrever um diário, mas que só naquele momento, "agora, às 10h56 da noite", tinha decidido começar. Então explico os três motivos que me convenceram a deixar a preguiça de lado e passar a documentar no monobloco morning glory o dia-a-dia da garotinha de 13 anos.
Motivo número 3: "Imagina que legal eu, quando ficar mais velha, reler tudo o que escrevi? Se bem que eu vou me achar uma bobinha...é sempre assim...a gente vai crescendo e, a cada ano, a cada dia que passa vai aprendendo algo novo, aí quando lembra do que achava há algum tempo, pensa: 'como eu era criança'. E não tem jeito ― isso não muda. A cada ano que passa a gente se acha mais experiente. É, até que de certa forma isso faz sentido".
Ô garota, me emocionei.
Fica aqui, nesta raspa de ano 2008, a tentativa de documentar agora as coisas que se passam dentro da moçoila.
Que se tornem bobas, mas continuem frescas.
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