sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
véspera da véspera
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
quando o gosto faz baldeação
"Já comeu jiló?" Ah, já, uma vez, achei normal, não tenho vontade de comer de novo. "Mas eu vou fazer jiló pra você, você vai amar, não tem como não amar os jilós da d. Cida". D. Cida, avó de duas pessoas queridas, nascida em Apucarana, no Paraná. Sei pouco sobre ela, que amava muito a neta, tinha um jeito certeiro com as plantas, evidentemente um pomar farto, e fazia jilós fritos maravilhosos. Provei o jiló da d. Cida e ele cheio de expectativa, e aí, e aí. Normal, eu disse, não podendo mentir gosto. Acontece que ele continuou fazendo às vezes nos almoços de sábado. Até que certo dia - não me lembro qual -, meses depois, os jilós da d. Cida me encheram a boca. Ele reparou, "ué, comendo mais jiló"? Parecia coisa do diabo, os jilós adquiriram um sabor exatamente do tamanho da minha boca, passei a desejá-los. Como cinco, seis, sete jilós numa mesma refeição, raspo a panela. Outro dia roubei dois jilós frios que sobraram na panela, e eu já tinha até comido a sobremesa. Até eu me surpreendi: quando eu ia me imaginar querendo jiló frio! Que alguns gostos a gente adquire magicamente, do mesmo jeito que não dá pra explicar como eu sei que o bolo de fubá neste momento no forno ainda não está pronto, mas logo estará.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
biscoitos de lua
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
muitas rosas e uma festa
Recebi do Kamal, o homem que criou o souk El Tayeb, o primeiro mercado rural de Beirute.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
aos sonhos, que nunca morrem
Cecília queria ser motorista de caminhão
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
invisível
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
corolário
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
sabedoria da água
Recebi hoje um e-mail da minha amiga Val, que é uma das 100 paneleiras de Goiabeiras.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
tia Dete
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
SWU
As bandas não eram cool, o clima já não tinha mais nada a ver com Woodstock.
Tava mais pra Playcenter.
A estrutura era grandiosa, com duas praças de alimentação, x-tudo, yogoberry, temaki de salmão, cerveja Heineken. Tudo muito organizado, uma SimCity da música que prosperou.
Mas cadê aquele festival que me fez descobrir o gosto por acampar? Ficar dois dias tomando banho de gato, comer azeitonas verdes amolecidas pelo calor da barraca, cruzar com um grupo de adolescentes sentado no gira-gira tocando violão no meio da tarde...
No acampamento esse ano tinha hora marcada pra tocar violão, divulgaram um “Coxinhal do camping” com regras como "não usar roupas inadequadas" e "não portar chapinha, secador, notebook e máquina fotográfica profissional".
Tenho de cumprimentar os seguranças do camping. Fizeram seu trabalho com mais eficiência que os seguranças do aeroporto de Tel Aviv.
Jogaram no lixo, na minha frente: meu guarda-chuva, meu saca-rolhas presente do meu pai, meu vinho lacrado, meu pote de azeitonas lacrado, meus amendoins, minhas balas Tubes e minha faca com cabo de peixe (sem serrinha) de Nova Orleans.
O segurança abriu minha nécessaire de maquiagens e remexeu nos meus blushes e batons, tenho certeza que queria jogar algo fora mas teve muito medo de mim.
Afinal, quem acampa é hippie e hippie não pode usar maquiagem, gostar de vinho, de azeitona e andar com guarda-chuva na bolsa. Assim como quem é aluno da USP não pode fazer a unha, secar cabelo e usar blusa da Gap e também participar de manifestos e enfrentar a PM. Ou uma coisa ou outra, esses jovens afinal querem TUDO?
Assim como os alunos da USP, esses jovens que vêm de ônibus até Paulínia escutar Lynard Skynard só podem ser vândalos.
(gente, tenho provas! uma menina chamada Sami apareceu na minha barraca me pedindo uma BOMBA!)
Acho que o SWU só foi legal ano passado por acidente, acho que eles nunca tiveram a intenção de fazer algo legal. Aconteceu. Então vamos consertar logo isso e fazer uma coisa chata.
Este ano estava surrealmente bem-organizado, mas se eu quiser só organização eu vou passear pelos corredores do supermercado Zaffari.
Eu quero pulsação e árvores
Que linda a menina à noite fazendo pose em frente ao hibisco cor-de-rosa, uma das únicas árvores do parque de Paulínia
O negócio é que ouvindo Ghostland Observatory, Duran Duran, Zé Ramalho, Granpa Elliott, ou ouvindo de madrugada na barraca a chuva cair e molhar nosso travesseiro e nossas certezas, acho tudo caótico e irrecusável.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
grito e silêncio
Os processos são silenciosos.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Eu sinto raiva
Eu nunca fui muito boa em expressar raiva. Sinto, como todo mundo. Não me chega em doses diárias, mas também nem tampouco em mensais.
"O mais bonito que tem é onça Maria-Maria esparramada no chão, bebendo água. Quando eu chamo, ela acode. Cê quer ver? Mecê tá tremendo, eu sei. Tem medo não, ela não vem não, vem só se eu chamar. Se eu não chamar, ela não vem. Ela tem medo de mim também, feito mecê..."
(João Guimarães Rosa)
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
novembrina
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
i wander
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
12 horas com elas
Nas primeiras poltronas havia duas senhoras. Uma, crente, com rabo-de-cavalo baixo, cabelo grisalho, viajando ao lado do marido que tinha fala mole e aparecia quase nada. A outra, de óculos e cabelo grisalho batendo no queixo, vi no escuro, mas notei ter olhos vivos e ambiciosos. Como acontece muitas vezes, as duas conversavam mas não se ouviam. O que uma dizia servia apenas de trampolim para a outra dizer alguma coisa, numa egocêntrica aeróbica oral. "Eu já tive uma chácara em Mairinque, eu choro até hoje de lembrar", falava uma, e a outra emendava "eu tive uma chácara em Osasco". "Tenho seis binetos"; "eu tenho 4"; "eu moro perto da Vila Yolanda"; "eu morei no Vila Yolanda sete anos". Não perguntavam mas porque você saiu de lá, mas quantos anos têm os seus netos, eram naturalmente indiferentes à história da outra. Pode ser que voltem para casa mais felizes e contem ao filho "você não sabe a coincidência, viajei ao lado de uma mulher que é paranaense e mora em Osasco", e talvez realmente tenham se alegrado com o encontro. Pode ser o meu espírito neste fim de manhã de segunda, mas achei aquele pano de fundo de um desbotado triste e só triste.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
alcançar escutar
Acho que estou encaretando. Acabei de escrever para uma amiga: que bom acordar cedo, sair do trabalho quando ainda é dia, passear com o cachorro no parque, fazer hidroginástica, passar no mercado, comprar flores talvez, comer um lanche em vez de jantar. E também eu disse: sim, você está certa, fique, fique, tenha paciência, não dá pra trocar isso por aquilo, quando é que se tem uma grana dessas no bolso? Estou considerando a paciência uma virtude de ouro, e foi me cair nos braços a jabuticaba, essa fruta que ensina a esperar. E de repente tudo o que eu dizia há 2 meses me parece justo mas não se ajusta mais aqui, é como se aquela certeza que antes pedia velocidade e pressa continuasse ali grande e se acomodando na poltrona, mas pedindo: vá devagar, que eu te alcanço.
se me veio me é
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
semana da jabotecaba
Faz tempo que não tenho um sonho poético, eu penso lendo Adélia Prado. Já tive muitos e um dia desses mesmo uma amiga me contou um obviamente poético.
Há três histórias de jabuticaba que eu não contei:
É pura coincidência, mas acontece que jabuticaba é minha fruta favorita. Sou capaz de recusar um brownie de chocolate e um pote de doce de leite por um punhado de jabuticabas doces e geladas.
A segunda história é de uns 15 ou mais anos atrás. Nas férias de janeiro em Tatuí íamos sentados no braço do trator ou de charrete ou de caminhonete até o sítio do Seu Pedro. Lá brincávamos com os pintinhos (que ele de vez em quando nos deixava levar para o nosso sítio) e comíamos frutas do pé. Lembro da manga e da jabuticaba. Pode conter sonho essa história, mas uma vez eu encontrei uma jabuticaba tão grande, e depois de ver a jabuticaba paulista no Ceagesp eu sei que era ela, uma paulista, e guardei-a na mão escondida pra comer depois. Sentada na caminhonete, mostrei a jabuticaba para meu primo Bruno, ele a roubou e comeu. Foi tão devastador que nunca mais me esqueci da jabuticaba gigante do sítio do Seu Pedro.
A terceira é a história de uma jabuticabeira que vivia num terreno dos Jardins até que um dia resolveram construir o shopping Iguatemi. Iam derrubá-la não fosse pelos pedreiros que trabalhavam na obra. Eles transplantaram a árvore, estimavam uns 50 anos, para sua casa na Lapa. A Lapa virou um bairro chique, venderam a casa, a moça que a comprou a revendeu para Chus & Sérgio, que gostaram dali muito por causa daquela jabuticabeira enorme no quintal. A proprietária disse "quase derrubei essa árvore". Ela empatava sua vida na hora de manobrar o carro.
Um dia terei uma jabuticabeira no quintal pra chamar de nossa (e prometo não ser rancorosa e convidar o Bruno pra comer dela).
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
conclusões de terça à noite
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
um pouco mais de paciência
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Bate e volta
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
carta para Deborah
Onde você vê um bebê de quipá comendo Cheetos, senhoras muçulmanas pedindo esmola na entrada do Muro das Lamentações e moças judias com seus 25 anos e três filhos a tiracolo, judeus ortodoxos que não te cruzam o olhar vestindo preto sem derramar uma gota de suor.
E de repente parece só mais um comerciante que te dirige um olhar sedutor, pergunta de que país você é e diz: "Entre, você gostou desse? Por favor entre, aqui dentro tem muito mais". Mas por alguma sorte entramos, e lá estava a pessoa mais extraordinária que conheceríamos em 9 dias de Jerusalém, o joalheiro marroquino Omar que, entre muitas outras coisas, tem em sua loja uma cisterna de 2 mil anos e nos deu uma aula sobre jóias & cordialidade.
O Monte das Oliveiras tem gosto de primeiro, foi a primeira vez que vi azeitonas no pé e entendi que essa viagem não seria um passeio.
Boiamos no Mar Morto e ficamos embasbacados com a existência de beduínos em todo o trecho da desértica estrada. Comprei lama e um creme espetacular de vanila com sais minerais do Mar Morto onde não está escrito em lugar algum da embalagem Dead Sea, mas como contestar em hebraico?
Passeamos pela Galileia, conhecemos as ruínas de Kafarnaum, a casa de Pedro, a Igreja do Sermão da Montanha. Na Igreja das Bodas, em Cana (Caná) quis interromper um casamento para que o padre nos abençoasse, mas ele foi mais sensato - como quase sempre - e me impediu. Acabamos acendendo uma vela, levando três microvasos de cerâmica e um lenço transparente e brilhante que enrolei na cabeça e foi a foto que minha mãe mais gostou.
O Santo Sepulcro é pesado, mas foi lá que um padre ortodoxo me benzeu e benzeu o santinho do meu pai trazido dali há mais de uma década, pela nonna.
Belém é autêntica, alto astral, maravilhosa e palestina. Me ajoelhei e rezei no canto onde teria nascido Jesus, rimos da loja fajuta Stars&Bucks, onde não me perdoo por não termos tomado um café, e ficamos assustadoramente 1 hora para deixar o muro que separa a cidade de Israel. Acho que nunca vou esquecer: ele indo buscar sorvetes de frutas enquanto eu fotografava, do ônibus, o céu com mil bandeirinhas da Palestina. Naquele momento, ficou claro: estávamos em outro país.
No Muro das Lamentações, me arrepiei todas as vezes e chorei todas as vezes. Deixei bilhetes, ganhei uma saia para cobrir os joelhos, cumpri o ritual, observei Roberto Carlos rezando e sendo bajulado pelo rabino mor dos lugares sagrados de Jerusalém.
Nos últimos dias, num impulso pegamos um ônibus para Tel Aviv e caímos, por acaso (atrás do cara que ia arrumar as rosas do Roberto) numa espécie de Ceagesp de Tel Aviv, o shukri Ha'Carmel. Lá vi as maiores tâmaras, comemos o melhor sanduíche de cordeiro e a limonada fajuta mais providencial.
Que mar tem Tel Aviv, que mercado foda de antiguidades tem Yafo!
Trouxemos um velho rádio de tape para o fusca e um móbile enferrujado com bons presságios.
O presente mais legal para nossa casa foi o tapete da loja de Omar.
Num futuro, talvez as lâmpadas mágicas de Aladim.
Abacaxi acha que o (outro) tapete novo, o do corredor, é dela e se esconde embaixo dele para nos dar tremendos sustos.
O Menino Jesus repousa em uma manjedoura de concha na estante nova.
O doce telefonema da minha avó dizendo que os presentes mais especiais foram os de Jerusalém.
A melhor comida foi o arroz amarelo com cordeiro no iogurte e salada de pepinos do Abu Taher.
Ganhei um colar de âmbar que não tirei do pescoço e no último dia fui saber o que ele significa (e se fosse mais discreta guardava pra mim como um segredo egoísta).
Toda vez que eu me ensaboo com o sabonete de romã da loja de temperos eu imagino a jovem mulher muçulmana que voltou à loja de temperos só para buscá-lo se ensaboando também.
Minha casa está cheirando a zaatar até hoje.
Eu não sei mesmo explicar por que, mas de alguma forma voltei de Jerusalém mais em paz.
Dois arrependimentos: deixei de comprar um lenço de seda com pavões costurados em miçanga, e disso me arrependi já de volta ao quarto de hotel.
Não comi as tâmaras medjool mais bonitas de Israel.
Mas como me disse um guia turístico em Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul, vendo minha frustração frente à neblina teimosa cobrindo os cânions, quando algo assim acontece é a cidade te chamando de volta algum dia.
E minha correntinha de S. Bento caiu minutos antes de eu deixar a cidade, minha proteção, mas ele me conformou dizendo que se caiu é porque tinha carga pesada nela e tinha que ficar ali.
É nessas horas que todo desentendimento se dissolve como açúcar em água e eu entendo o que uma vez vi num filme bobo: num álbum de fotos, estamos sempre sorridentes. Mas são os momentos difíceis que ligam uma foto e a outra e a outra.
Termino como Roberto Carlos começou aquele show que me encheu de alegria de menina: a Jerusalém, minha reverência.
foto: claudia schembri
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Sampa
domingo, 28 de agosto de 2011
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
domingo, 21 de agosto de 2011
Uma história das irmãs de General Carneiro
Era aos domingos. Atravessávamos como dois gafanhotos o portão de ferro da casa do Morumbi e antes de cumprimentar o nonno e a nonna corríamos para os braços delas. Neri & Maria. Dormiam na parte de baixo da casa, em uma área de serviço porém agradável, com varanda e alguma luminosidade.
Cheiro de ameixa, leite, velhinhas com adoráveis vestidos florido-apagados de domingos nublados. Era puro amor. Nos abraçavam forte, eu e meu irmão, lembro do rosto sorridente da Neri, tinha cabelos belos e ásperos ainda não totalmente grisalhos apesar da avançada idade. Parecia-me que me olhar era sua maior felicidade, e choro sem dor e sorrindo muito grata por essa forma de amor que aprendi com ela.
Religiosamente nos entregavam balinhas de leite da Kopenhagen e R$ 20 para cada um, era uma fortuna, sustentou nossos álbuns de figurinha e nossas sessões de cinemas com casquinhas de chocolate do Mc (eu preferia as mistas, mas achava que era uma pessoa do chocolate e precisava ser coerente). Não me lembro de um domingo em que saímos de lá sem bala e sem mesada.
Preparavam os melhores pratos do mundo, uma lasanha de berinjela que era receita da nonna e a tia Tica disse que vai ensinar-me, polpetas que à época eram porpetas, o 'erre' bem puxado de italiano da Mooca. Depois do almoço elas vinham nos trazer no jardim, enquanto procurávamos tatus-bolas para experimentos infantis, leite condensado com granulado de brigadeiro, em xícaras de café.
Sotaque caipira, com os 'erres' carregados e dieta de 'esses'. Só hoje é que fui saber onde nasceram as irmãs: em General Carneiro, uma das cidades mais frias do Paraná.
Gostavam de praguejar, e eu, seguindo o exemplo de minha mãe, procurava palavras com efeito reverso. Neri se queixava da saúde, eu respondia "Neri, você ainda vai me ver entrar na igreja!". Ela engrandecia, alegrava, e perguntava "será que eu vou?" acreditando muito que sim. Lembrando da promessa, Maria, já com seus 90 anos, já sem Neri ao seu lado, já morando na casa de Itu, me bordou um enxoval. Como dizer que eu já não pensava em me casar? Não disse. Beijei-lhe a testa, acariciei sua mão com dedinhos tortos e veias saltadas e sentenciei: é lindo. A vida se encarregou de explicar o resto.
No mês passado, poucos dias antes de partir, Maria falou à amiga Neusa que se viesse a faltar, as fotos eram dela. As fotos as quais se referia eram fotos minhas, do Marco e do Lucas que tinha penduradas na parede do quarto desde os anos de Morumbi. Mudava de casa, mas não mudava as fotos de lugar. Pequena Nana de chapelinho branco com uma mosca na aba e expressão invocada.
Maria considerava aquelas fotos seu maior patrimônio. Chorei. Chorei apertando suas mãos no hospital de Itu porque sei que muitas vezes lhe faltei. Pelo menos deu tempo de dizer, olhando fundo em seus olhos sem óculos: o amor que eu tenho por você e pela Neri é amor mesmo que tenho pela nonna, está me ouvindo, Maria?
Em Jerusalém, acenderei duas velas no centro da igreja mais bonita para aquelas que nunca me faltaram; me ensinaram o valor das balas de leite e do dinheiro, e deixaram para sempre meus domingos encantados.
foto: daqui
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Y Dale Alegría A Tu Corazón
es lo único que te pido, al menos hoy,
y dale alegría, alegría a mi corazón
y que se enciendan las luces de este amor.
Y ya verás como se transforma el aire del lugar,
y ya, ya verás, que no necesitaremos nada más.
Y dale alegría, alegría a mi corazón
que ayer no tuve un buen día por favor,
y dale alegría, alegría a mi corazón
que si me das alegría estoy mejor.
Y ya verás, las sombras que aquí estuvieron, no estarán,
y ya, ya verás, que no necesitaremos nada más.
Y dale alegría, alegría a mi corazón
es lo único que te pido, al menos hoy,
y dale alegría, alegría a mi corazón
afuera se irán las penas y el dolor.
Y ya verás, las sombras que aquí estuvieron, no estarán,
y ya verás, las sombras que aquí estuvieron, no estarán,
y ya, ya verás, las sombras que aquí estuvieron, no estarán,
y ya, verás, que no necesitaremos nada más.
*Fito Páez
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
hola que tal?
Hoje aconteceram três das melhores coisas do mundo: tomei canjica no café da manhã, acordei com minha gata me lambendo o rosto e fiz com que ele sorrisse em um fim de manhã tormentoso - enrolei um lenço azul e verde na cabecinha dela, imprevistamente imóvel, comportada, e disse vem ver a Abacaxi, nossa gata virou muçulmana. Então, bom, é certo que o fusca está dando trabalho, e que preciso de mais trabalho, e que não gosto de dias demasiadamente quentes e ensolarados (especialmente quando pela Lei do Clima deveria fazer frio), mas ainda tomei um capuccino gostoso na loja de tecidos e fiz amizade com a barista. Linda só toma café coado Três Corações, e mesmo assim descobriu um jeito de tirar o melhor café expresso cremoso. Porque gosta de fazer as coisas bem feitas e felizes, naturalmente. Amo Lindas.
E calhou que há exatos três anos, no meio da Marginal Tietê congestionada, ela escutou: garota, você quer namorar comigo?
Bom dia para voltar ao Calunga, com teias de Neide.
Foto: Neide Rigo
quarta-feira, 13 de julho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
arnaldo
presente
Pesquiso 'João Guimarães Rosa' na caixa de e-mail e acho uma conversa com a Pó, em agosto de 2008, dois meses antes de estrear o blog
"eu: o que vc acha de um blog chamado Calunga Cor-de-rosa?"
cada coisa no seu tempo, cada chuva no seu céu, cada fruta no seu pé. às vezes leva dois meses, às vezes um dia, às vezes três anos
e por hoje é só, que doce a gente come de pouquinho
tô lenta aqui, mas it's alright
sexta-feira, 17 de junho de 2011
melado de cana com farinha
É amor verde.
Tá crescendo no pé, deixa a gente tomado por aquela alegriazinha de ver o rosa do limão lá de longe, da varanda da casa.
Amor verde, músicas desconhecidas e improváveis com as mesmas velhas notas.
Rapaz tocando viola caipira lá no fundo do restaurante gaúcho, e você sozinha comendo abóbora camarelada com arroz e feijão completamente excitada. Amor novo é solitário, pode-se viver um amor novo ao mesmo tempo, mas nunca junto.
Montes de borboletas juntas saindo pelos olhos, amor verde é avó, uma bemquerença de vó que te invade e faz você achar o mundo certo só porque às 20h30 nós chegamos e ela vai estar lá, com os olhos vermelhos de quem acabou de acordar.
Cheiro seu pescoço cheirando a nenê, beijo sua barriga com pelos curtos de gata borralheira e deixo que me faça carinho no rosto mesmo que em algum dia venha a me machucar com suas unhas afiadas.
Em segredo, às vezes lasco um pedaço de queijo meia-cura e te observo comê-lo com prazer e gula comedida.
Faz um movimento esquisito e absolutamente charmoso quando, durante a brincadeira de esconde-esconde, nós nos aproximamos.
Tem rinite e sabe-se lá por que, levanta-se do pé da cama e sempre vem espirrar perto de nossos rostos.
Antes de beber água, afunda a patinha e dá uma lambida nela, como se cheirasse a taça de vinho.
E quando três dias depois você conseguiu devidamente eliminar a fitinha do Bonfim roxa que comeu, chorei de alívio, alegria e raiva por Ó céus quanta preocupação. Essa parte da alegria eu não sabia.
Amor verde consegue ser doce, cremoso e vermelho. Porque é novo, e o que é novo pode tudo.
(graças a deus existem máquinas de lavar, banhos de mar, cachoeiras, tendas a vapor e abraços)
Amor destamanhado, amor novo é um desafio aos físicos, ache um recipiente aqui, em Roses ou em Marte que o comporte.
Amor novo não tem tamanho nem quantidade muito menos nome e, com esses olhinhos, precisa?
Mas tem gosto, e eu diria que hoje está pra leite condensado com nescau, pra citar uma guloseima burguesa, ou melado de cana com farinha, que esse é o certo, e esse post não podia chamar diferente.
Piuí-Abacaxi, nossa mais que amada.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
As Pontes de Torres
Era noite, dormia no salãozinho e me deu vontade de buscar alguma coisa dentro de casa. Mas a escuridão não me impediu de atravessar o jardim escuro e fui andando sorrindo com os braços erguidos, tateando o ar para evitar esbarrões. E cheguei. Acordei feliz, é raro não sentir medo em sonhos (quantas vezes não inconscientemente me tranquei no banheiro daquele mesmo salãozinho, afungentada por cachorros invocados). Mas nesse sonho, não, não pensei duas vezes e atravessei. Em fevereiro, atravessei a ponte pênsil que interliga os litorais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e atravessei a fronteira dos 20 e poucos para os 20-e-bem-feitos. Aí fiz uma mistura boa (tipo a de ontem na panela, queijo brie, shiitake, manteiga e uma pimenta do reino que não deveria estar ali e foi perfeita). Pensei um sonho é impreciso e desconfiado como uma ponte pênsil, que é sustentada por cabos e tirantes, mas faz o diabo, faz a gente atravessar em segundos estados imaginários.
Ilustra: Linn Olosfsdotter
terça-feira, 31 de maio de 2011
para animar a terça-chuchu
"De repente, só por causa de um algodão-doce com flores, me animo e acredito"
(Nina Horta)
foto: Ladybird
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Sir Brigadeiro
Coisa de morar na mesma rua que a avó: um dia, eu e minha prima tivemos um surto de vontade de brigadeiro e como não havia leite condensado na dispensa apelamos para a vovó. Caminhamos 7 minutos até a casa da rua Irlanda e inesperadamente não havia vovó nem tia nem ninguém ali (nem chave debaixo do capacho). A Manô, que sempre foi mais destemida e pé-de-moleque que eu, não desistiu. Saltou o portão de ferro e, toda suja e feliz, apareceu com a lata.
Não sei o que me deu mas eu, que nunca tinha tocado num fogão, decidi que seria a responsável pela preparação do pontífice dos doces brasileiros, el Brigadeiro. Não sei se é mais uma daquelas falácias da minha memória, mas lembro com nitidez da expressão da Manô quando me perguntou: "Você sabe fazer? Tem certeza?". Tenho. Não sabia, mas meu, era manteiga, leite condensado e chocolate em pó – não podia dar errado.
Vinte e cinco minutos depois, ela invadiu a cozinha e estranhou que eu ainda estivesse mexendo a panela. Meus braços doíam e o rosto esquentava. "Que que é isso? Você queimou todo o brigadeiro!". Queimei. Ficou intragável de um jeito que você levava à boca e tinha que cuspir imeditamente porque em 3 segundos virava uma bolota dura com gosto de nada. A Manô ficou tão brava, gritava que tinha se sujado e machucado as canelas para pegar a lata na vovó, e tinha sido tudo à toa, e como que eu tinha garantido que sabia fazer. Ainda estava com o rosto preto de sujeira, o que conferia dramaticidade à cena.
Após tempos traumatizados pela vil experiência do brigadeiro queimado, no ano passado decidi enfrentá-lo. Comprei os ingredientes e um dia perguntei aos meninos, depois do peixinho frito de sábado, se eles não queriam o doce. Postei-me em frente ao fogão e raciocinei que, se havia deixado queimar em 25 minutos, o tempo ideal deveria ser metade disso. Deixei 10 minutos, esfarelei bolacha maisena, adicionei morangos e finalizei com uma bola de sorvete de macadâmia.
A receita agradou tanto que não só foi aprovada, mas batizada - Fragolone é o seu nome. Virou tradição. Que jucundo prazer servir quem você ama de brigadeiro quente, que vaidoso prazer o dia em que ouvi dela “ninguém faz igual ao seu”.
Mesmo assim não relaxo, toda vez que me levanto para fazer brigadeiro fico pensando que ele vai queimar – e não tem uma vez que o cheiro não me avive a lembrança do hilário episódio compartilhado com a Manô.
Acho que lição de brigadeiro queimado deveria estar em panfletos de auto-ajuda: cozinhar qualquer coisa em excesso é prejudicial à saúde.
Foto: do blog Alma Obesa