quarta-feira, 30 de novembro de 2011

muitas rosas e uma festa


Recebi do Kamal, o homem que criou o souk El Tayeb, o primeiro mercado rural de Beirute.
Achei lindas e estão aqui hoje para celebrar o fim de um ciclo.
Rosas libanesas & uma festa, nada mal!
Quando passa da medida...adiós, bebida! - como disse um outro rapaz que entrevistei, o mexicano Mikel.
Amanhã, tem mais


terça-feira, 29 de novembro de 2011

aos sonhos, que nunca morrem


Maria Vitória sonha com uma torneira que, em vez de água, jorre coca-cola
João vislumbrava ganhar a bicicleta sorteada no álbum de figurinhas
Paula queria usar aparelho nos dentes, e chegou a rezar para que isso acontecesse
Rachel, quebrar o braço e ser empregada
Mônica desejava voar
Bianca também
Marco queria ter o poder de voltar no tempo e passear por algum momento do futuro
Ana Elisa sonhava em ser patinadora do Carrefour

Joana viveria feliz para sempre com Afonso Nigro, do Dominó
Jéssica queria ser estilista. Colava clipes nas unhas para fingir que eram gigantes
Olívia esperava o dia em que a Xuxa leria uma das 15 cartinhas enviadas a ela
Giuliana se imaginava sereia, com cauda roxa e a cara da Bela
Cecília queria ser motorista de caminhão
Eu queria que meus pelúcias falassem

Ilustração: Talita Nozomi

p.s. a intenção é que esse post cresça um pouco a cada dia

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

invisível


EU TE AMO
Só por causa de uma tortinha de maçã?
Só por causa de uma tortinha de maçã.

(só 10 minutos depois ela vê que há uma tortinha de maçã em sua mesa)

Amar é amar primeiro o invisível.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

corolário


Hoje eu compreendo por que meu pai sempre insistiu demais para que comêssemos mais uma garfada de banana com açúcar, e perdoo todas as avós do mundo: que prazer enorme é alimentá-los!
Lá do quarto ouço o barulho dos teclados intercalados por Personal Jesus, ou o som da televisão ligada de madrugada, e sinto uma pequena paz
Andar no banco de trás do fusca, com a música muito alta no meu ouvido, escutando apenas alguns trechos de suas exaltadas contendas políticas
É impossível se sentir distante dentro de um fusca, talvez por isso antigamente as famílias fossem mais unidas. Culpa da iEra? Substitua metade dessas peruas brutamontes por fuscas e observe como as pessoas conversarão mais
Tem também a felicidade dela ao constatar que a geladeira está cheia, com coca-cola e o queijo que ela mais gosta
Ser testemunha do amor que vocês sentem um pelo outro.
Ontem, pela primeira vez, o garoto disse só "tô em casa"
Foi uma alegria que dormiu e acordou comigo
E hoje eu pensei que se conseguimos desenhar juntos um lugar que é chamado de casa, algo de certo fizemos


p.s. Calunga cor-de-rosa completa três anos hoje. Viva!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

sabedoria da água


Recebi hoje um e-mail da minha amiga Val, que é uma das 100 paneleiras de Goiabeiras.

"Lembre-se da sabedoria da água: a água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna."

Sou uma pisciana, afinal.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

tia Dete


Ela vai morrer de vergonha, mas essa foto foi alegria na veia e desejei-a imediatamente aqui.
Porque ela contém cinco preciosidades: tia Dete, turbante, praia, coração de ouro e a sensação de ver seu pai em versão mãe.

(furtada do Facebook da Mila)


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

SWU


As bandas não eram cool, o clima já não tinha mais nada a ver com Woodstock.

Tava mais pra Playcenter.

A estrutura era grandiosa, com duas praças de alimentação, x-tudo, yogoberry, temaki de salmão, cerveja Heineken. Tudo muito organizado, uma SimCity da música que prosperou.

Mas cadê aquele festival que me fez descobrir o gosto por acampar? Ficar dois dias tomando banho de gato, comer azeitonas verdes amolecidas pelo calor da barraca, cruzar com um grupo de adolescentes sentado no gira-gira tocando violão no meio da tarde...

No acampamento esse ano tinha hora marcada pra tocar violão, divulgaram um “Coxinhal do camping” com regras como "não usar roupas inadequadas" e "não portar chapinha, secador, notebook e máquina fotográfica profissional".

Tenho de cumprimentar os seguranças do camping. Fizeram seu trabalho com mais eficiência que os seguranças do aeroporto de Tel Aviv.

Jogaram no lixo, na minha frente: meu guarda-chuva, meu saca-rolhas presente do meu pai, meu vinho lacrado, meu pote de azeitonas lacrado, meus amendoins, minhas balas Tubes e minha faca com cabo de peixe (sem serrinha) de Nova Orleans.

O segurança abriu minha nécessaire de maquiagens e remexeu nos meus blushes e batons, tenho certeza que queria jogar algo fora mas teve muito medo de mim.

Afinal, quem acampa é hippie e hippie não pode usar maquiagem, gostar de vinho, de azeitona e andar com guarda-chuva na bolsa. Assim como quem é aluno da USP não pode fazer a unha, secar cabelo e usar blusa da Gap e também participar de manifestos e enfrentar a PM. Ou uma coisa ou outra, esses jovens afinal querem TUDO?

Assim como os alunos da USP, esses jovens que vêm de ônibus até Paulínia escutar Lynard Skynard só podem ser vândalos.

(gente, tenho provas! uma menina chamada Sami apareceu na minha barraca me pedindo uma BOMBA!)

Acho que o SWU só foi legal ano passado por acidente, acho que eles nunca tiveram a intenção de fazer algo legal. Aconteceu. Então vamos consertar logo isso e fazer uma coisa chata.

Este ano estava surrealmente bem-organizado, mas se eu quiser só organização eu vou passear pelos corredores do supermercado Zaffari.

Eu quero pulsação e árvores

Que linda a menina à noite fazendo pose em frente ao hibisco cor-de-rosa, uma das únicas árvores do parque de Paulínia

O negócio é que ouvindo Ghostland Observatory, Duran Duran, Zé Ramalho, Granpa Elliott, ou ouvindo de madrugada na barraca a chuva cair e molhar nosso travesseiro e nossas certezas, acho tudo caótico e irrecusável.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

grito e silêncio


Os processos são silenciosos.
Não se despede do velho e se recebe o novo numa espécie de transe ritualístico porque chegou o dia D. Não sei como são com as noivas, elas me parecem exceção, tão logo se encaixam no vestido branco viram noivas, mulheres incrivelmente belas e naturalmente felizes
mas sei que ninguém se casa no casamento, se forma na formatura, sai do emprego ao sair do emprego ou se separa na derradeira conversa.
Os processos são lentos e silenciosos.
O meu, nessa semana que precede esse dito ano novo astral, tem sido curioso. Porque, se dum lado as palavras agressivas têm-me saído com consoladora facilidade, de outro me sinto mais silenciosa que nunca. Um estranho silêncio. Estou até conseguindo fazer o percurso casa-trabalho apenas ouvindo o rádio, sem falar nada. Hoje foi The Growlers.
Mas o que importa mesmo hoje é que uma noiva muito especial para mim dirá seu sim em Florianópolis.
À ela, meus desejos de que permaneçam sempre juntos e sorrindo em cima desse elefante que eles elegeram o deles!

foto: daqui

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Eu sinto raiva


Eu nunca fui muito boa em expressar raiva. Sinto, como todo mundo. Não me chega em doses diárias, mas também nem tampouco em mensais.
Sinto, e em vez de reagir com natural agressividade, eu quase sempre choro. Geralmente longe do inimigo, escondido no banheiro, no carro, no quarto.
Sempre agi com estranha sensatez, dizendo no máximo um "não concordo com você", "acho que não é bem assim", corando e indo soluçar longe dali, já em terreno seguro, em minhas próprias cachoeiras.
Deve ser alguma coisa na minha composição, combinada com alguma coisa herdada do meu mil avô, com alguma coisa de criação de pai e mãe.
Afinal, com 6 anos, quando a professora perguntou "o que você faz se um amiguinho briga com você?", eu respondi livremente "ou eu chamo a tia ou eu peço desculpas". Está lá em meu boletim, para eu sempre me lembrar. O que me faz concluir que minha lógica sempre foi a seguinte: é melhor pedir desculpas e ser inocente que ser culpada e me inocentar.
No fim, um medo gigantesco de assumir a responsabilidade de se tornar uma persona non grata.
Fui crescendo e achando que tudo bem, sou assim, até que um dia eu descobri que não. Eu sinto raiva, assim como uma das pessoas mais doces que conheço, meu irmão, também sente, e à mesma pergunta sobre o amiguinho respondeu "eu bato nele".
Tudo bem ser doce e brigar. O que não é legal é fingir que não sente raiva, ódio, desprezo, pena, dó, e ir lá ao banheiro sentir escondido.
No último fim de semana em Pedra Bela, chegamos atrasadas e a reação geral foi achar que tínhamos sido displicentes. Perdemos a roda de apresentação e fomos tomadas de um intenso mal-estar. Em um lugar sagrado onde havia vivido uma sucessão de experiências boas nos últimos quatro anos, pela primeira vez me senti mal. Mas quando os anfitriões vieram me perguntar se estava tudo bem, eu respondi, como se ligada no piloto-automático, sim tudo ótimo. Uma das amigas disse que não estava tudo bem e desabafou sobre o desconforto que estava sentindo. Então largou mão daquilo, seguiu em frente, terminou o trabalho quase esquecida do incômodo inicial.
Acho que a raiva é nossa só até o momento em que nos despedimos dela.
Eu não, passei os dois dias presa àquele sentimento. Segurei até onde pude - passei a última rodada do ritual levantando do lugar e indo vomitar no banheiro.
Aquilo foi uma lição. De como é importante deixar a agressividade sair feito o ar da bexiga que esvaziamos de propósito só para ouvir aquele "tssssshuu".
Perder a ternura de vez em quando.
Qual a medida eu ainda não sei.
Pelo menos já consegui dizer na cara de um manobrista: vá se foder!
E dizer ao árabe do velho mercado de Jerusalém algo que traduzo como "você entendeu errado, sir, não há necessidade de ser grosseiro"
Já consigo mostrar o dedo do meio no trânsito. E minha mãe disse, dia desses, "filha, o que é isso? que descontrole"
Conscientemente descontrolada, a escolha de se descontrolar.

Sim, há meia dúzia de pessoas no mundo que não suporto e não gostaria de ter por perto.
Acho o Fernando Henrique Cardoso detestável, já cheguei perto dele depois de uma palestra e perguntei "por que levantar a discussão da maconha?". Desviou o olhar e disse, mirando o chão, sem qualquer vibração, "é um assunto importante, existem assuntos importantes".
E ainda tem um bafo horrível de café com cigarro.

Minha avó diz que quando escuta a neta dizer à filha "engole esse choro", fica irada. "se você briga com a criança, o mínimo é deixá-la chorar em paz".

Respondendo, por puro acaso, à pergunta da Ju Menz, talvez seja esse o meu maior desejo para 2012: engolir menos raiva.
Se a vida briga com a gente, se a gente briga com a vida, o mínimo que se pode fazer é deixar a raiva sair em paz

Hoje eu penso: o que seria de mim sem as vezes em que rolei no chão puxando o cabelo da Manô, cheia de raiva e vontade?

"O mais bonito que tem é onça Maria-Maria esparramada no chão, bebendo água. Quando eu chamo, ela acode. Cê quer ver? Mecê tá tremendo, eu sei. Tem medo não, ela não vem não, vem só se eu chamar. Se eu não chamar, ela não vem. Ela tem medo de mim também, feito mecê..."

(João Guimarães Rosa)


E por último: este blog é cor-de-rosa, mas não é fofo.

foto: jota

será que...



se existe pão francês quente com manteiga, não seria já essa vida o paraíso?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

novembrina



Eu conheci, em Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul, uma mulher chamada Novembrina. Mas ela não tinha nascido em novembro.
O mês começou friozinho do jeito que eu gosto, perdi a conta de quantas vezes respondi com um blasé "é, né" à afirmação "o tempo tá tão feio, podia abrir um solzão!", e aquele sorriso grandão de solzão, calor, verão.
Ontem o Bruno apareceu no jardim às 7 da noite esfregando as mãos e disse: que frio, acho que vou voltar pra cama! não dá mais pra saber em que mundo estamos.
Ganhei um colar adorável com caveiras do Día de Muertos, é um colar com alma, como eu acho que são as coisas verdadeiramente mexicanas. Tenho vontade de não desgrudá-lo mais do pescoço.
Escolhi passar a semana comendo uma comida que não me fascina. Não sei por que escolhi, mas deve ser por algum motivo. Está sendo bom
Tem uma coisa rondando minha cabeça, entre tantas. Que é a frase da amiga tão daqui: pare com isso de achar que sua missão é só aqui.
Andei me reapaixonando pelo Giovanna Baby rosa...
Dia desses eu passei em frente à casinha que tanto namorei, havia placa de "aluga-se" de novo. Olhei, olhei, o rapaz perguntou "quer entrar?", eu tinha tempo mas me neguei. Como é que às vezes a gente sabe com tanta precisão quando é a hora de entrar, quando é a hora de não?
Comprei um maiô laranja vintage que é um luxo e vai ser tão irresponsável usá-lo na hidroginástica. Chega de maiô desbotado, vamos tirar o maiô laranja vintage lindo do armário todos os dias, certo?
Hoje de manhã ele disse: sabe que dia é hoje? Começa o inferno astral. Não sei não, Susan Miller estava tão generosa...
Desconfio de frases muito generosas, roupas muito felizes e gente que vai muito ao médico
Mas confio em recados deixados no box do banheiro, no carinho da minha gata & nas jabuticabas geladas. Logo, não sou confiável
Já começamos a pensar no Natal e no Ano-novo. A prima vai para o Taiti!, e a mãe? Ficará muito triste se não participarmos da reza na rua Irlanda este ano? Ficará. Mas o menino Jesus de Belém estará na mesa central, lembrando que estamos ali
Recebi um e-mail de uma ex-colega de trabalho dizendo preciso que você diga pra gente sinceramente qual o seu maior desejo para 2012, tem que ser só um
É mole?
Um dia eu gostaria de voltar a Cambará do Sul

Foto: homens trabalhando na reforma do casarão que abrigará o restaurante Garimpos do Interior, na Lapa, previsto para inaugurar...em novembro.