sexta-feira, 28 de maio de 2010
back to the future
Em 22 dias, dá para cortar as unhas três vezes. É assim que eu sei que o tempo passou: olhando minhas unhas. Vinte e dois dias depois, não é mais preciso descer com crachá para almoçar, as abelhas migraram da praça de alimentação, a irmãzinha pintou e repicou o cabelo e não dá para usar bermuda em São Paulo. Vinte e dois dias são suficientes para mudar a estação. As flores ficaram secas, mas a casa continua com aquele cheirinho gostoso de baunilha que spray aromatizante nenhum vai conseguir imitar. Lá em cima, nas Alagoas, em 22 dias deu tempo de enfiar a mão debaixo do rio e comer ostras frescas com mel e azeite, forrar a barriga de sequilho, dormir com um filhote de cachorro sarnento na cama, torrar o dinheiro com toalhas de renda. Mas tem coisas que não. Não me acostumei com a beleza do mar-cameleão metido a lagoa. Com a impossibilidade de resolver beterrabas & pepinos imediatamente, essa regalia paulistana. Com o calor (mas eram os banhos gelados). De tudo, fica muito. E desse bolo tem aquelas fatias. A mulher de 24 anos com três filhos a tiracolo me perguntando como era, como era o São Bento que dá nome ao seu povoado, e eu abri a carteira e mostrei; d. Irinéia, herdeira de Zumbi, voltando do hospital com labirintite e querendo cobrar R$15 pela escultura imaculada de uma Nossa Senhora Aparecida negra com manto azul de tinta; o garoto de São Miguel dos Milagres que aprendeu com a mãe a trabalhar a palha em artesanatos aos 9 anos, perdeu a mãe e, mesmo sem a mãe aqui, levanta cedo, abre a loja Maria da Palha e sorri. Aquelas fatias que tudo bem se eu engordar (eu engordei?).
terça-feira, 11 de maio de 2010
Coqueiros...
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Volare
Cala boca Zebedeu, o nonno não morreu. Está sentado em uma espreguiçadeira debaixo de alguma sombra em Polignano a Mare, com um casaquinho de linho, porque mesmo sendo primavera e mesmo sendo litoral, dizem que lá faz frio. Come polpetas com palitinhos Gina enquanto a lasagna de berinjela não sai do forno. Toca pife no rádio, e ele fecha os olhos e sorri. Seu sorriso é mais azul que o mar de Polignano. Aparece alguém e ele conta docemente indignado como a cama do hospital era desconfortável, e como foi massacrado por um exército apático de agulhas. Conta a história do ninho de mafagafos para um garotinho italiano. Ou do jacaré. Os braços não estão mais roxos, as bochechas já voltaram a ser rosadas, já recuperou o fôlego: consegue fazer suas caminhadas matinais e acabou com o saquinho de piccicatella que a neta lhe trouxe de Jericoacoara. Todo mundo quer ficar perto do nonno, dizem que está tão feliz que é provável que fique por lá. Se eu fosse ele, ficava. Almoçava ostras frescas no Da Tuccino, o restaurante da nossa família, tomava sorvete de massa nos becos. Sabia que no Ceará ninguém sabe o que é sorvete de massa? O nonno demonstra espanto fazendo um movimento com a boca, às vezes seguido de um "Barbaridade...". Nonno, Polignano a Mare é um pouco longe, talvez a gente não consiga te visitar em breve, mas sempre teremos Volare (Nel blu dipinto di blu).
Assinar:
Postagens (Atom)