quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Saco de guardar sapato
Eu adoro sair por aí tirando fotos. Seria mais prático se tivesse uma máquina bacaninha pequena, mas já me acostumei a levar a grandona para tudo quanto é canto.
Comecei a fotografar mais depois que fui pra Cordisburgo com uma máquina emprestada da PUC, fiz umas fotos da doceira d. Xêra e saiu em uma matéria que publiquei no jornal. Uau, fiquei feliz da vida. A d. Xêra na pagininha com sua cesta de figos cristalizados, sorrindo, olhando para os doces.
Até hoje não sei como o professor me emprestou a máquina (a Eulina, assistente, ficou indignada, não acreditava), eu não fui em suas aulas o que se pode chamar de uma aluna exemplar (gostava de fotografar, mas passar horas naquela salinha escura apertando mihões de botões em uma determinada ordem, em um determinado tempo não era minha praia). Pois emprestou, e meses depois resolvi comprar uma igual. Teve também a história da astróloga. De acordo com seu mapa, ela disse, você deveria seria fotógrafa ou cineasta.
Fui em uma manhã de sábado até a rua 7 de Abril, no centro, uma manhã dessas libertárias porque a gente decidiu que era. Não errei o caminho, nem para ir nem para voltar.
No domingo, meus pais me levaram até a Praça do Pôr-do-Sol e estreei a bichinha.
Um ano pagando, um quase-roubo, areia, areia, que botão é esse? que que eu fiz?, sorrisos, beijos os mais doces e um saco de guardar sapato.
- Pai, onde eu guardo a máquina? Aquelas mochilas são muito caras.
- Guarda num daqueles sacos de sapato, sabe?
- Pirou, pai? Claro que não.
Depois:
- Professor, sabe o que eu notei? São caras as bolsas para guardar máquina. O que eu faço?
- Guarda num daqueles sacos de sapato.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
o barba azul
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Luiz
Encontrei o Luiz no Brás, perto da Rua dos Trilhos. Fui até ele e fiz a pergunta óbvia. Você é um Papai Noel? "Não", ele responde, "não é fácil". Mostra um papel com o nome de um jornalista que teria prometido entrar em contato, depois explica que seu sonho é aparecer em algum programa televisivo, e volta à história do jornalista. Não entendo muito bem o que diz, e suspeito que antes de eu chegar ele remexia no lixo da rua. Você tem telefone? Luiz mostra seu r.g. Mas onde você mora? Ele me explica que dorme em um lugar ali perto, parece ser uma espécie de albergue. "Não é fácil conseguir trabalho, as pessoas estranham minha aparência", diz. Eu sei que não adiantaria, mas abro a bolsa e ofereço uns trocados, enquanto não consigo arrumar pra ele um emprego de Papai Noel, penso. Ele recusa. Fala novamente algo sobre o jornalista e, sorridente, posa para foto, segurando com uma das mãos sua identidade.
domingo, 23 de novembro de 2008
Verdes
"Acho que eu nunca ri desse jeito com um livro", disse a Manô, depois que eu soltei uma risadona pela terceira ou quarta vez enquanto me deliciava com Os Componentes da Banda, da Adélia Prado. Nós duas esparramadas no sofá florido do sítio.
Então lá fora o sol só parecendo fraco avermelhando as bochechas, as crianças pulando na piscina e fazendo água voar por tudo quanto é canto e eu pensando 'não vou reclamar, era muito chato quando os adultos reclamavam'. E Violeta me diz:
"A Mirna Costa arrumava, arrumava, escovinha nos cílios, pó no nariz, lápis contornando a boca, como se fosse casar, 'você não vai passar nada?' Adorava sair de cara lavada, fazendo par com a Mirna Costa, toda confeitada. 'Feliz de quem Deus quer bem', ela dizia me olhando desapontada, 'arrumei tanto e não realço nada'. Me observava procurando o segredo. Já naquele tempo sabia: se me aplicar a ter olhos verdes, terei. Acredite quem quiser, não gasto mais força provando nada a ninguém. Bibia falou um dia desses, nós duas tomando sol: 'mãe, deixa eu ver, a senhora tem o olho verde?' Olho pras coisas com olho verde e assim eles ficam. Acontece só quando estou feliz, o que ultimamente ocorre com muita regularidade".
Eu ri, mas dessa vez foi graça que faz cosquinha, envolve delicada e fica, fica, macia. Vento gelado no pescoço em dia escaldante. Graça que pinta sorriso de canto de boca e toma conta de todo o resto.
Então lá fora o sol só parecendo fraco avermelhando as bochechas, as crianças pulando na piscina e fazendo água voar por tudo quanto é canto e eu pensando 'não vou reclamar, era muito chato quando os adultos reclamavam'. E Violeta me diz:
"A Mirna Costa arrumava, arrumava, escovinha nos cílios, pó no nariz, lápis contornando a boca, como se fosse casar, 'você não vai passar nada?' Adorava sair de cara lavada, fazendo par com a Mirna Costa, toda confeitada. 'Feliz de quem Deus quer bem', ela dizia me olhando desapontada, 'arrumei tanto e não realço nada'. Me observava procurando o segredo. Já naquele tempo sabia: se me aplicar a ter olhos verdes, terei. Acredite quem quiser, não gasto mais força provando nada a ninguém. Bibia falou um dia desses, nós duas tomando sol: 'mãe, deixa eu ver, a senhora tem o olho verde?' Olho pras coisas com olho verde e assim eles ficam. Acontece só quando estou feliz, o que ultimamente ocorre com muita regularidade".
Eu ri, mas dessa vez foi graça que faz cosquinha, envolve delicada e fica, fica, macia. Vento gelado no pescoço em dia escaldante. Graça que pinta sorriso de canto de boca e toma conta de todo o resto.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
just a little yellow basket
Fiquei com A Tisket A Tasket na cabeça desde que uma cantora me disse que a música da Ella Fitzgerald fez com que se apaixonasse por jazz.
Nunca tinha escutado, aí achei esse vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=XUYpUogn91U
Que delícia!
No mesmo dia, li numa revista antiga de música, a Compact Disk, uma matéria sobre a Ella e a Billie Holiday. Sobre Ella, dizia lá: "impossível achar defeito até usando uma lupa a laser".
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Parto
Antes de dormir, resolvi fuçar umas pastas antigas que ficam na última gaveta do armário. Escolhi a azul. Eu sei tudo o que tem dentro de cada pasta, mas às vezes é bom me lembrar.
Fui virando os plásticos velhos, alguns rabiscados, e tirei de um deles um papel pequenino onde estava escrito, com caneta cor-de rosa e letra de forma meio torta: sonhos.
"No dia 29/12 eu sonhei que meu cabelo estava sendo arrumado por uma moça que ainda não descobri quem era. Eu pensei que meu cabelo não ia ficar tão comprido, mas ficou e eu estranhei, mas fiquei feliz. Eu pensei que ficaria liso, mas ficou todo ondulado, mesmo assim gostei".
Eu achei a maior graça. Tinha mais outros dois sonhos anotados e depois, numa outra folha, as duas unidas por um grampo enferrujado, uma data. São Paulo, 23 de setembro de 1999. Embaixo, eu começo a contar que há tempos gostaria de escrever um diário, mas que só naquele momento, "agora, às 10h56 da noite", tinha decidido começar. Então explico os três motivos que me convenceram a deixar a preguiça de lado e passar a documentar no monobloco morning glory o dia-a-dia da garotinha de 13 anos.
Motivo número 3: "Imagina que legal eu, quando ficar mais velha, reler tudo o que escrevi? Se bem que eu vou me achar uma bobinha...é sempre assim...a gente vai crescendo e, a cada ano, a cada dia que passa vai aprendendo algo novo, aí quando lembra do que achava há algum tempo, pensa: 'como eu era criança'. E não tem jeito ― isso não muda. A cada ano que passa a gente se acha mais experiente. É, até que de certa forma isso faz sentido".
Ô garota, me emocionei.
Fica aqui, nesta raspa de ano 2008, a tentativa de documentar agora as coisas que se passam dentro da moçoila.
Que se tornem bobas, mas continuem frescas.
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