sexta-feira, 29 de novembro de 2013

e lá vão oito


Se você vai gostar de jabuticaba como eu, ou melancia como ele
Se você vai gostar de jaca, como eu e tão poucas pessoas que eu conheço. Uma vez comprei umas amarelinhas na feira que escorregavam na boca e estavam tão doces, filho. "A melhor que tem é a amarela, acabou de ser apanhada, é difícil achar", disse o feirante. E era verdade!
A verdade é que você vai ter suas frutas preferidas, um gosto pessoal e intransferível para tudo e ele vai ser naturalmente diferente do nosso.
Às vezes eu imagino a cor dos seus olhos e do seu cabelo, seu jeito de olhar, o ritmo do seu sono, a sua personalidade. Claro que tenho sensações e palpites, muito metida como toda mãe acho que de você já sei muita coisa. 
Mas a verdade é que penso nessas coisas bem menos do que achei que fosse pensar. No fundo do meu coração elas não têm a menor importância. Só têm importância eu te sentir bem, te sentir mexendo, te sentir conectado.
Eu só te amo. Amo ter você morando na minha barriga, amo sentir você se mexendo, amo as contrações, amo a falta de ar. Porque são conquistas nossas. Porque um dia você foi só uma ideia, noutro você virou semente de gergelim e agora você é um bebê pequenininho. Daqui a pouco você vai ser bebê prontão, um dia vai ser menino, menino grande, rapazinho, homem e esse é o ciclo certeiro da vida. 
Anteontem eu entrevistei um cara que disse coisas tão legais sobre a vida. "Não tenho a intenção de que esse negócio dure pra sempre". "Você acelera uma árvore? Por que acelerar uma empresa?". "A vida é cíclica". 
É como a gravidez. A gravidez é cíclica, a gravidez é outro tempo, um tempo sem espaço para a aceleração e com muito espaço para o relaxamento. Um tempo rico em significado, e eu espero levar tudo isso junto comigo quando você fizer check out.
É muito doido e lindo como o nosso corpo vai se adaptando às transformações. E como a energia vai mudando, mês a mês, semana a semana. 
Mas espera, nada dói, nada incomoda, tudo cor de rosa? Claro que tem incômodo, tem chatice, tem irritação, tem briga, tem falta de sintonia, tem aflição. Mas acho que se você aceita a natureza das coisas, sem querer acelerar ou desacelerar nada, tudo fica mais fácil. 
*
Cinco meses depois de aterrissar em Moema e desviar para a Augusta, quero flanar. Gastar o tempo regando as flores na varanda, apreciando o novo grafite da fachada, fazendo bolo para os queridos, observando as gatas beberem água, revelando fotos, quero saber o que ele está sentindo, quero namorar.
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Semana que vem vai fazer 36 semanas que estamos juntos nessa empreitada, oito meses completos. E quando ela chegar ao fim, significa que o sinal está verde pra você chegar quando bem entender. Isso me dá muita emoção e gratidão. É como pensar no seu parto. Eu penso e me emociono, choro. Choro onde for, no trabalho, no ônibus, na rua.
Agora quero fazer só o que faz sentido fazer agora: esperar você. As pessoas dizem que o último mês dura uma eternidade, que é melhor a gente não ficar muito à toa porque senão o tempo não passa e a ansiedade vai à mil. 
Mas eu não ligo, eu não vejo a hora de ficar à toa só esperando você, e suspeito que, mesmo sem meta e horário pra cumprir, serão os dias mais atarefados dos últimos tempos.


foto: Flor da Madrinha/Paula Desgualdo


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

felicidade


Eu me sinto tão feliz
Eu não sei desenhar essa felicidade, mas um dia me veio a imagem de uma bola que vai crescendo e se expandindo dentro de mim, o que não deixa de ser literal.
Me sinto um pouco o Cat Stevens quando parou a música e confessou que não lembrava de sua própria canção, pedindo ajuda ao teleprompter. "A opinião dos outros já não é o que importa mais e sim sua própria satisfação pessoal", como escreveu o Jota.
Não sinto nada diante de um sério problema corriqueiro, não me tiram mais do trilho. Amo todos os domingos, até os muito quentes, e todas as manhãs de segunda-feira. Amo a tosse seca insuportável que me acompanhou por 15 dias. Amo os quartos de bebês mais bobos. Amo até minha forma mais feia, minha explosão mais sem sentido. Amo tudo indiscriminadamente. Paz e amor, 70's total, chá de cogumelo, também magia e meditação, Legião Urbana, amo tudo, aceito tudo. 
Você está aqui, você está dançando dentro de mim. Se eu toco a barriga você chuta bem naquele pedacinho que eu estou tocando, e por essa generosidade sempre lhe serei grata. 
Bebê generoso, agitado, mas não agitadiço, bebê que não mexe depois de um chocolate, mas mexe muito com rabada. Me faz comer pimenta, sonhar com um escondidinho de linguiça e trocar sorvete de chocolate por limão. Bebê que dançou o tempo todo no show do Cat Stevens.
A gente vai fantasiando. A gente vai sentindo. 
Nessa semana nasceram muitos bebês. Nasceu o menino da Jana, chegou o tempo dele, finalmente, depois de a mãe ter insistido algumas vezes "vem, nenem, vem". Chegou a princesa cabeluda da Lelê. Imagine só que há duas semanas encontrei a Lelê na porta da Galeria Ouro Fino, com aquela barriga pontudona que agora é Luisa. É emoção demais.
Às vezes sinto que você já está aqui fora. Hoje no almoço com seus avós no Paulistano você entendia tudo. Principalmente de manhã, na hora de acordar, sinto a sua presença deste lado aqui muito forte. Ontem à noite, subindo as escadas para ver o móbile no quarto, senti cheiro de nenê!
"Take it slowly", canta o Cat. Há 15 dias fiquei sabendo que alguma coisa já começou. E venho conversando com você, com carinho, te pedindo pra esperar um pouquinho. Não que precise pois eu acho que quem mais entende tudo de ritmo e timing neste trio é você.
Quanto mais se aproxima a sua chegada, mais feliz eu me sinto e esse é um sentimento involuntário e blindado, sem cor nem som, que tem raízes mas voa.
Eu não sei de nada, filho, só sinto e fantasio, mas quando chegar a hora de você dizer "I know I have to go away", é nesse lugar que eu quero estar.


foto, produção e engenharia da foto: dad

trilha sonora do post: "Father and Son", de Cat Stevens