domingo, 25 de novembro de 2012

Oi, geleia


Geleia pra mim não tem nada a ver com prazeres de raiz, daqueles já costurados na gente. Nem com família, nem com café da manhã. Geleia pra mim é mais futuro que presente. Sabe aquela pessoa que você só conhece de passagem, mas sente que nalguma curva da vida vai ser sua amiga? Acho que é mais ou menos por aí, meu lance com a geleia.
Geleia me lembra minha cunhada Lucinha, embora ela com certeza não faça ideia disso. Quando eu me apaixonei pelo irmão dela, ela ainda morava na Sicília, em Palermo, onde aprendeu tudo sobre a magia da geleia com a dona da mais famosa fábrica da região. De volta ao Brasil, aproveitou a recém-conquistada expertise e abriu a empresa Sapori di Lu, com conservas tão maravilhosas que me fazem até hoje ligar a Lucinha às geleias. Por ora, ela abandonou a "alma conservadora" e é responsável pelo perfume que sai das panelas da Confraria do Café, o melhor restaurante de Cianorte.
Lucinha esteve em casa há algumas semanas e eu morri de vontade de pedir para que me ensinasse um pouco do tanto que sabe sobre cozinha. No entanto, como a estada foi breve, preferimos tomar cerveja no sofá e descobrir coincidências engraçadas como o fato de ambas se recusarem a investir dinheiro em uma boa garrafa térmica.
Mas sobre as geleias. Há tempos venho ensaiando esse encontro. Recentemente cheguei a improvisar uma de fisalis (o nome camapu é muito mais legal), mas fiz sem ver receita nenhuma intuitivamente com seis ou sete fisalis, e ficou mais pasta que geleia, porém boa.
Esses dias vi um vídeo da Tanea Romão com uma receita de geleia de morango e me animei. Fiz mais umas pesquisas e ontem finalmente joguei duas caixas de morango e um punhado de framboesa na panela com açúcar derretido. Não ia colocar limão porque achei que de acidez já bastava a dos morangos, infelizmente não muito doces. Tive de acrescentar o suco de um limão às pressas quando li ser ele, senhor pectina, o responsável pela consistência de geleia da geleia.
Uma hora depois, sem dramas nem sujeiras e com muita alegria verde, estava pronta a minha primeira geleia. Para uma brasileira acostumada desde criança a comer leite condensado de colher, faltou açúcar nela. Mas vou fingir que foi de propósito e que é minha porção francesa aflorando, como deve ser.



Nota: No momento em que a geleia era fotografada, ele avisa que os camarões ao molho de cenoura, receita nova, estão prontos, e sou cercada por duas gatas curiosas. 
A geleia veio em bom tempo pois virou presente de aniversário para o Juva, grande amigo. 
Esse post tem um pouco de Tata, pois afinal enquanto o escrevia li seu ensaio sobre Plitvička,  que tem cheiro de geleia silvestre.
Ah, nada contra você, azulinha, mas ainda vou ter uma colher barroca bem bonita...



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