domingo, 3 de maio de 2009

Virou


Estava deslumbrante o Parque da Luz iluminado. Vasinhos com fogo por todo canto, uma bola cheia deles logo na entrada, na frente da estação. Aglomeravam-se ali milhares de pessoas extasiadas. Ou simplesmente cansadas de andar e andar e andar. Difícil, como em todas as outras edições da Virada Cultural, conseguir encostar a cabeça no travesseiro satisfeito com o que se viu no centrão. Porque não deu para ver. Porque muito tempo foi perdido entre aquele e esse palco e porque quando você finalmente chegou lá estava lotado, já tinha acabado, um amigo te ligou dizendo que melhor mesmo é aquele outro, vamos?

Mas o centro estava über-habitado, rebrilhando, milhões de pessoas passando pela rua São João no sábado à noite. Tinha fila para comprar a tapioca da Estação da Luz de madrugada, um esmaga-esmaga tragicômico enquanto Edy Star & Caverna Guitar Band tocavam Raul e três garotas sentadas na grama do Parque da Luz, felizes no frio e na fumaça, imaginando como seria se uma jaca resolvesse cair do pé. Sempre existirão motivos para voltar pero, para mi, basta.

Foi infinitamente mais legal ver o Trash Pour 4 no Sesc Consolação, que estava latino com tecidos de chita e lhamas na porta, Sesc Soy loco por ti São Paulo. Todo mundo colorido como um Xul Solar e dançando nem-aí, empolgado com os gritinhos da Natalia Mallo. Cheio na medida certa. As moças que quisessem encarar a filinha ganhavam penteados e voltavam para casa com flores portenhas para enfeitar o cabelo. No bar, uma torta de escarola bem razoável matou a fome das 3.

Hoje ainda deu tempo de passar, antes do plantão, na rua Leôncio de Carvalho com a Av. Paulista, onde integrantes do grupo Miguilim, contadores das histórias de Guimarães Rosa, deram um show. Quando vi a Mariana toda linda de cabelo amarrado e ela sorriu, acenando, ouvi o barulho das folhas secas de Cordisburgo e lembrei de um pedaço de mim. Nós sabemos quem somos, mas a vida toda precisamos ficar lembrando. Por isso Cordisburgo, por isso um abraço, uma música, um cheiro, um baú. Por isso o amor, esse pássaro que põe ovos de ferro, como recordava a faixa pendurada em cima do palco.

Seu Toninho tocou sanfona. Zé Maria falou de Deus e Diabo. Um rapaz homenageou o tio cowboy, uma francesa contou um caso sinistro sobre uma família do interiorzão de seu país. Daiana, de batom vermelho, apresentou às mais 100 pessoas Miguilim. "Essa é a história de um menino que saiu do interior de Minas para estudar na cidade grande", explicou. Mais ou menos como ela. Isso ela não disse, mas sentiu, aposto meus melhores cavalos. E os carros passando na avenida, buzinando, acelerando, sem saber o que se passava ali, como alguém guloso pelo centro não sabe como podem ser deliciosas as bordas.

Foto: José Patrício/Agência Estado

2 comentários:

Guilherme Peace disse...

=)

você capturou a minha virada, quase.

Juvenal disse...

eu virando o velocimetro do carro entre sampa, cunha e são luiz do paraitinga procurando árvores com meu amigo valdir cruz. nao vi nada da virada.