terça-feira, 29 de maio de 2012

de um diálogo


A vida não é uma prova, o resultado de uma equação que determina que você errou ou acertou, passou ou não passou. A vida é desenhar florzinhas na beirada da página. 


*essa foto eu especialmente adoro porque era para ser só do Copan, mas na hora do clique ventou e a planta contou uma nova história

quinta-feira, 24 de maio de 2012

mãe Eulina



Eu fico imaginando. Ela devia ter duas ou três panelas. Ontem mesmo eu disse para ele: aposto que ela tinha três panelas e elas as usava o dia todo, nunca chegavam a se apegar ao armário. Em uma delas devia deixar sempre uma água fervendo, para o caso de algum filho chegar da rua ou precisar sair de casa antes do almoço. Imagino seus cabelos num tom castanho claro, lisos e compridos, mas sempre presos num rabo de cavalo baixo. Seu sorriso tímido, igual o dele. Os olhos como se o tempo todo abertos, mas nunca cansados. Ela, assim como o marido e os primeiros 12 filhos, nasceu no sertão da Paraíba, um lugar que não está no Guia Quatro Rodas. 
Ela cantava lindamente para ele.
Ela mora num quadro lá no sítio que eu adoro. A gente já conversou bastante e acho que, tirando uma mania ou outra, ela gosta de mim. 
Toda vez que eu colho limão rosa do pé eu me sinto mais próxima dela. Quando eu cozinho para os netos dela, também.
Ela era uma engenheira de primeira: construiu uma casa no coração do garoto que, tantos anos depois, segue intacta. A pintura, as portas e janelas e os abacates para os sabiás.
Hoje ele escreveu sobre a mãe Eulina, e eu chorei.


"Não sei quando ela nasceu e nem quem foram os pais dela.

Não sei se ela sabia escrever, nunca a vi escrevendo.
Não sei o dia em que ela morreu, mas me lembro de tudo, eu estava lá.
Eu era muito novo para me lembrar de como ela era, mas me lembro.
Do que não me lembro, encontro nos meus irmãos, fragmentos do que ela foi.
Confesso que, para questões de sanidade emocional, dependo muito ainda dessa senhora aqui da ilustração.
(para assuntos de sanidade física também).
A descrença nas pílulas e no xarope envidraçado e a fé cega nas plantas? Culpa dela.
As cantigas de ninar hoje se transformaram em folk songs, mas é tudo da mesma matéria-prima.
A comida com muita cebolinha, o gosto pelo bolinho de chuva, pelas sopas, tudo influência dela.
O otimismo crônico (“Não há dinheiro suficiente para o cinema, mas podemos resolver isso vendendo umas coxinhas na frente do Estádio Municipal, filho”).
Há algo da influência dela no meu jeito de não deixar nunca que notem minha contrariedade.
Finjo naturalidade para não trair o orgulho ferido."


(Jotabê Medeiros)


ilustração: Célia Medeiros 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

movimento


Fato: o que era importantíssimo deixa de ser. A pasta "importantíssimo" do Gmail esta aí para provar. Quantos e-mails descartáveis...
Mas a música Recordando, do Warley Henrique, permanece, como permanece!

*sem versão no You Tube, só no My Space dele: http://www.myspace.com/music/player?sid=58749907&ac=now

*ilustração de um livro folheado distraidamente numa tarde de terça-feira, vou tentar descobrir o nome

domingo, 20 de maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

honrando




Meu pé de feijão

Por Paula Desgualdo

Comprei uma caneca verde e pequenina para recebê-los. Três feijões. Era o que cabia dentro dela. Um bocado de algodão molhado e pronto. Igualzinho na infância. O banheiro é mais iluminado, pensei. E lá eles ficaram. E lá suas cascas começaram a se romper em inacreditáveis 48 horas. E lá eles se contorceram para que dos grãos nascessem lindos pares de folhas verdes. Guardam em si tudo o que precisam para crescer, explicou a irmã. É só colocar água. Emprestei todo o meu carinho. Gotas despejadas com cuidado, mais algodão para sustentar o caule. Gostaram, os feijões. Encantada diante da vida que floresce, olhos brilhantes iguaizinhos aos da infância, acompanho seu desenvolvimento duas, três, quatro vezes ao dia. No escuro, observo as folhas se encolherem, à espera do amanhecer. Aí o sol vem e elas se exibem todas, sabidas de sua beleza. E eu rio aqui dentro. Junto ao meu pé de feijão. 


Nota da autora do blog. É a sua energia do crescimento que tá fazendo o feijão crescer rápido assim, irmã. Como ela cresceu, como ela cresce a cada dia, energia-feijão!

terça-feira, 15 de maio de 2012

lembrete das 16

lembrete: dizer mais a frase "já desliguei o botão da ansiedade em relação a isso". com o botão devidamente desligado (lembretes têm de ser claros).

exercício


É um exercício interessante, ir a shows sem saber de quem se trata, o que vai ouvir. Já fui a um punhado deles quase no escuro, ouvindo um trecho de música, às vezes nem isso, às vezes uma frase palúdica dele que eu nem chego a digerir, só mastigo, às vezes só sorriso, sem promessa. Então chego, me aproximo do palco e olho ao redor. As pessoas perfeitamente colocadas ali, a menina  grande da saia curta brilhante, o fortão Felipe Folgosi, todos à espera dele, e tão impactados quando ele finalmente vem. James Blake me impactou no festival Sónar, no Anhembi, neste sábado. Embora eu estivesse com muito frio (ela tinha razão), embora já fosse tarde, embora eu quisesse ver o Justice do lado de fora. Aí acontece comigo esse movimento inverso interessante, eu gamo no artista depois do show, fico caçando suas músicas no You Tube, fico pensando como seria fazer parte daquela massa, aguardando Limit to Your Love naquele sábado. Aplaudindo aquele garoto com cara de 12 anos tocar sua música soft, soft como a cebola caramelizada que eu comi esta noite, e se eu me esqueço de sua doçura minhas mãos não esquecem.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

soft, soft...

O mundo, da cadeira onde o enxergo, precisa de mais gente soft como James Blake. Soft, soft, soft.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

a virada do infinito


O melhor da Virada é sempre caminhar pelo Centro. Emociona não é pouco é pra caralho. Iluminado, habitado como merece, pelo mendigo, o noia, o casal indie, a trupe hippie, o Mario Botolotto, as amigas Suellen. No show do Gilberto Gil, uma hora lá do lado esquerdo do palco, em frente à Estação Julio Prestes, eu vi uma coreografia: um bad boy com dois cachorros pretos numa coleira, tentando se soltar e latindo para a mulher, que em vez de se assustar mandava beijinhos para os cães, e um catador de latinhas passando com um saco de lixo cheio delas, uma mulher com seus 50 e poucos encostada na mureta esperando Realce, as pessoas fazendo da árvore camarote e o malucão que veio caçoar a gente com um cartão telefônico, dizendo "já tem ingresso?". Foram dois dias bem estressantes pra gente, o universo parecia conspirar para dar tudo certo, só que ao contrário. Acabou o açúcar em casa e tivemos de adoçar o café coado com mel. Mas aí você escuta o Arnaldo Baptista cantando "sim, sou muito louco, não vou me curar". Vê seu garoto sorridente brincando de telefone de sucata, aqueles telefones feitos com barbante e duas latinhas (ou copos de plástico), e escuta ele cantando a vitória do Santos para a pessoa do outro lado "da linha". E ganha um adesivo "felicidade se acha é em horinhas de descuido", com a frase do Rosa. E vai ao banheiro do Teatro Municipal e flagra o desabafo de uma policial para outra: "E como esse chapéu aperta nossa cabeça? Chega a dar dor de cabeça". E encontra um menino lendo gibi durante o show Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Acha os Titãs uns animais e pensa como é que eles viraram esses babacas que são hoje, se eram uns animais, uns animais? Come um McChicken na calçada da 7 de Abril, toma uma cachaça verbal no Dona Onça com o Xico Sá, compra um tênis pirata Mad Bull na Galeria do Rock. Escuta a Flora Matos cantar o hino da mulher que descobre sua independência emocional após o término de um relacionamento. "Me apaixonei...por quem? Por mim", e você chora, com uma certa vergonha porque, porra, você está ali semi-profissionalmente, fotografando a mina. A Virada ilumina nosso Centro enfermo e nos transforma todos em rapazes latino-americanos de Belchior.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

chá de erva-cidreira com o pintinho

A tirinha me lembrou o dia em que eu liguei pra psiquiatra e disse:
- Eu sinto uma dor muito forte, sabe, uma bola presa aqui na garganta.
E ela disse:
- Você não tá com dor de garganta?

Tirinha: O pintinho