quarta-feira, 22 de agosto de 2012

y rodar

Para comemorar o nascimento do yrodar, blog da mais que querida Pó, ou Pauli, como ela é chamada em Toluca de Lerdo, no México.
"O México é o país mais mexicano do mundo", eu ouvi de um cara da mesa vizinha no café
"O México é vanguarda", disse o garoto de 22 anos que fala grego e hebraico
Pra mim, o México é onde está minha irmã
Meu amor me apresentou Cascatinha & Inhana, uma das primeiras duplas sertanejas do Brasil, descendente certa da ranchera de José Alfredo Jiménez, que por sua vez inaugurou o yrodar da Pó. É por isso que Cascatinha & Inhana estão aqui hoje

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

chega de saudade


Hoje eu vi na tv minha casa da r. Antônio José da Silva, 37
Meu pai transformou os VHs com nossos aniversários, batizados & nascimentos em DVD.
Assim, hoje depois de um almoço com um feijão maravilhoso da Ciça, eu, pai, Nico e Bia nos sentamos para assistir a festa de 1 ano da Bia.

A sala com o sofá em L, o bar de mármore, os quadros do Inos que já não são nossos (a maioria ainda é), o jardim e a casinha de boneca que um dia ficou infestada de abelhas, o salãozinho com o sofá desconfortável e o videogame, aquela engenhoca grande que fazia o portão funcionar (sempre quebrava), o corredor onde a Bia revelou que adorava andar de skate. A cozinha, quase chorei quando vi aquelas gavetas beges lá longe, e um pedacinho da copa onde a gente tanto ficava.
Mas, tirando a cozinha, eu não senti saudade dolorida em momento nenhum.

Eu era uma menina de oito anos com cabelo curtinho e roupa descolada, um colete e uma saia cor de jeans e um top preto por baixo. Estava feliz com a Pó, a Manô, a Joana e as gêmeas, o sorriso todo sujo de brigadeiro.

Alguns ali já se foram literalmente: tia Cecília (como era moderna, não?), vovó Carlotinha, tia Maria.
Outros, afetivamente: Joana, Lélia, aquele amiguinho que a Bia adorava e, a gente concluiu, deve ser hoje o maior pulha de que se tem notícia!

Mas foi bom ver que, tempo vai tempo vem, a memória continua intacta, fresca como um suco de cupuaçu na Ilha do Marajó.
E sempre existirão vasinhos com margaridas brancas.

Ah, vai lá: De sonhadora para sonhadora, na minha outra casa, As Meninas de Lá.
As casas, virtuais ou de alvenaria, são um desenho que nunca se apaga, ficam para sempre guardadas em algum lugar do passado.
ou do futuro?
Tudo se repete, afinal.

ilustração: Inos Corradin



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

sobre uma florzinha do campo chamada Fabiana


Ando encantada pelas fotos da minha prima Fabiana. 
Ela só tem 12 anos, mas suas fotos têm mais alma que portfólio de muito adulto pós-graduado.
Têm luz própria, têm identidade
Não têm medo.
E, apesar de serem feitas com o filtro da moda, não são insta-victim, não são nada óbvias.

A Fabi nasceu no dia  1º de março de 2000, eu tinha acabado de fazer 14 anos.
É claro que o nascimento de todo primo é uma festa, mas quando a Fabi nasceu eu sentei e escrevi uma carta pra ela, de próprio punho, dando as boas-vindas e contando tudo o que tinha acontecido naquele dia primeiro, coisas banais do tipo "o Palmeiras ganhou do Grêmio".
Depois abri um livrinho que eu costumava consultar, com uns anjos na capa e frases de efeito, mentalizando "o que a vida traz pra Fabiana?". A resposta era de arrepiar, algo como "uma estrela brilhando no firmamento".
Nunca entreguei a carta para a Fabi, está perdida. Já tentei achá-la nas pastas que carregam dezenas de poemas dramáticos escritos por uma garota pisciana e romântica; não achei.
Eu não sei por que mas, meninas de 12 anos, elas me emocionam particularmente. Acho que é porque aos 12 anos eu passei pela maior provação da minha adolescência. Acho que é porque aos 12 anos elas são o que há de mais menina na vida, a essência do que é ser menina, a criancinha já ficou para trás e a mulher ainda está longe.
É bom e é ruim. É inseguro e é seguro. É contido e é do tamanho do mundo.

Eu ando enchendo o saco da Fabi pra ela usar o cabelo ao natural. O cabelo dela é dum tom loiro acinzentado lindo e tem cachos espetaculares. Eu acho que ela deve me achar uma chata quando eu insisto para repicá-los em vez de escová-los, e soltar o rabo de cavalo não só quando está entre familiares, mas sempre. 
Fabi, seu cabelo é o mais bonito da turma, pode apostar!

Mas pode ser que ela cresça e os queira lisos. 
Pode ser que escolha o caminho retilíneo e se transforme em uma excelente advogada (quem acompanha suas instrutivas discussões com a vovó é que o diga)
Pode ser que transforme a fotografia apenas em hobby, a gastronomia idem. 
Não falei que ela é exímia cozinheira mirim e já saiu em reportagem até no caderno Paladar? Em um curso de massas que fez com o tio Gaspar, se não me engano acabou ensinando os grandes a dobrar capelete. 
Seja o que for, ela vai brilhar. 
Não foi a prima, mas o anjo que disse, no dia em que ela nasceu. Se o anjo disse, está dito. 


foto: Fabiana Laloni Gentil




sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sobre comer fora



O maior prazer de comer fora é ao mesmo tempo seu maior martírio – esperar sentado a comida chegar. Em casa, ninguém puxa a cadeira antes que todas as travessas cheguem à mesa, já reparou? Fica cada um para um lado, atrás daquilo que mais lhe apetece o estômago. O mais ousado vai até o fogão e espera o momento de distração do cozinheiro para surrupiar uma batata do forno. Tem aquele que furta uma lasca de pão envelhecido da cesta e abre a geladeira na esperança de achar uma fatia de presunto perdida no meio de tanta cerveja e coca-cola. E sempre tem um metido a mestre-cuca que toma a liberdade de abrir a panela, experimentar o molho de tomate e pedir que se ponha mais sal.

No restaurante é outra história, é preciso sentar e esperar, o restaurante impõe a nós todos um exercício civilizatório: suportar o magnífico cheiro da comida alheia e disfarçar a inveja dos risinhos felizes diante da lasanha gratinada fumegante que acabou de pousar na mesa vizinha. Mas é a espera, afinal, que abre espaço para diálogos impossíveis de serem travados no meio de uma batalha em casa para conseguir o queijo ralado que está do outro lado da mesa.

É nesses 20 minutos entre o pedido e a chegada do prato que você fica sabendo o que exatamente o seu irmão está fazendo no emprego novo. Que o pai tem tempo de contemplar a filha mulher sem pressa e lembrar de quando ela era só uma menina que fazia cara de fuinha para foto. Que o neto põe a mão no ombro do avô e pergunta “e aí, vô, como está a vida lá em Curitiba?”. Às vezes, a mesa fica em silêncio, e todos se sentem imensamente agradecidos uns aos outros por não precisarem se constranger diante do nada absoluto e especular sobre o clima em São Paulo. 

Como muitos paulistanos, sou filha de pais que nunca cozinharam. Nunca vi minha mãe tirando um bolo do forno ou meu pai picando uma cebola. Por isso muitas das minhas memórias gastronômicas mais afetivas foram vividas em... restaurantes. Nos tempos mais abonados, frequentávamos uma casa italiana nos Jardins, era um salão com paredes cor de salmão e guardanapos de pano. Depois passamos a ir a uma cantina italiana com toalhas quadriculadas nas mesas. No mais chique ou no mais simples, o pedido era sempre o mesmo, pois quem ama comida de verdade não liga para grife: “Por favor, três capeletes ao molho branco. Bastante queijo gratinado. E uma porção de torradas”. Os garçons nem anotavam, apenas diziam “o de sempre, né?”.

Está aí outro privilégio que não se tem em casa – os garçons. Depois de um tempo, sua função principal deixa de ser nos servir e eles se tornam nossos verdadeiros cúmplices. O Calixto, garçom do Genésio, o restaurante com pinta de bar que é o preferido do meu marido, é capaz de trocar o jogo de futebol do telão para que ele possa ver o Santos jogar; incluiu no cardápio a polenta com vôngole que ele inventou de comer um dia; e quando vou lá acompanhada só das amigas, me olha torto e pergunta: “E o João, cadê?”. Se isso não é puro conforto, não sei o que é.


*Texto publicado no recém saído do forno Guia Gastronômico de Cianorte, no Paraná, um projeto da cunhada (e linda) Eliane Medeiros


*foto: eu, Bianca Tucci e Teresinha Laloni, no dia em que a pequenininha comemorou 18 anos. Com almoço na casa da vovó, é claro (e comida de restaurante!).