terça-feira, 31 de maio de 2011

para animar a terça-chuchu



"De repente, só por causa de um algodão-doce com flores, me animo e acredito"

(Nina Horta)

foto: Ladybird

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sir Brigadeiro


Coisa de morar na mesma rua que a avó: um dia, eu e minha prima tivemos um surto de vontade de brigadeiro e como não havia leite condensado na dispensa apelamos para a vovó. Caminhamos 7 minutos até a casa da rua Irlanda e inesperadamente não havia vovó nem tia nem ninguém ali (nem chave debaixo do capacho). A Manô, que sempre foi mais destemida e pé-de-moleque que eu, não desistiu. Saltou o portão de ferro e, toda suja e feliz, apareceu com a lata.

Não sei o que me deu mas eu, que nunca tinha tocado num fogão, decidi que seria a responsável pela preparação do pontífice dos doces brasileiros, el Brigadeiro. Não sei se é mais uma daquelas falácias da minha memória, mas lembro com nitidez da expressão da Manô quando me perguntou: "Você sabe fazer? Tem certeza?". Tenho. Não sabia, mas meu, era manteiga, leite condensado e chocolate em pó – não podia dar errado.

Vinte e cinco minutos depois, ela invadiu a cozinha e estranhou que eu ainda estivesse mexendo a panela. Meus braços doíam e o rosto esquentava. "Que que é isso? Você queimou todo o brigadeiro!". Queimei. Ficou intragável de um jeito que você levava à boca e tinha que cuspir imeditamente porque em 3 segundos virava uma bolota dura com gosto de nada. A Manô ficou tão brava, gritava que tinha se sujado e machucado as canelas para pegar a lata na vovó, e tinha sido tudo à toa, e como que eu tinha garantido que sabia fazer. Ainda estava com o rosto preto de sujeira, o que conferia dramaticidade à cena.

Após tempos traumatizados pela vil experiência do brigadeiro queimado, no ano passado decidi enfrentá-lo. Comprei os ingredientes e um dia perguntei aos meninos, depois do peixinho frito de sábado, se eles não queriam o doce. Postei-me em frente ao fogão e raciocinei que, se havia deixado queimar em 25 minutos, o tempo ideal deveria ser metade disso. Deixei 10 minutos, esfarelei bolacha maisena, adicionei morangos e finalizei com uma bola de sorvete de macadâmia.

A receita agradou tanto que não só foi aprovada, mas batizada - Fragolone é o seu nome. Virou tradição. Que jucundo prazer servir quem você ama de brigadeiro quente, que vaidoso prazer o dia em que ouvi dela “ninguém faz igual ao seu”.

Mesmo assim não relaxo, toda vez que me levanto para fazer brigadeiro fico pensando que ele vai queimar – e não tem uma vez que o cheiro não me avive a lembrança do hilário episódio compartilhado com a Manô.

Acho que lição de brigadeiro queimado deveria estar em panfletos de auto-ajuda: cozinhar qualquer coisa em excesso é prejudicial à saúde.


Foto: do blog Alma Obesa

terça-feira, 24 de maio de 2011

juquinha


Foi encantamento à primeira vista. A foto é do Ademir Assunção, o Pinduca, e está lá no blog dele.

terça-feira, 17 de maio de 2011

nem sempre quero dar título

Às vezes dá vontade de deixar de lado aquela afirmação politicamente correta "pô, legal". Mas aí você fala porque você sabe que a pessoa tá achando uma bosta e precisa ouvir que está tudo bem. E, em alguns poucos casos, você percebe que de fato a pessoa acha aquilo legal por mais que pra você não seja nada legal e então pô, legal.
Na verdade, é mais fundo. É estafante fazer coisas que você não tá a fim de fazer e dizer coisas que você não tá sentindo porque é socialmente mais aceitável.
Tipo sopa instantânea, que você não quer comer mas quando viu já tá esquentando a água e jura que é a última vez (mas sabe que não é).
Concordar que uma coisa é ótima quando você achou apenas razoável, fingir tranquilidade quando na verdade está quase vomitando notas de - R$ 1.
E cansa reclamar, autorreclamação é uma prisão sem coca-cola sem Bob Marley.
Mas tem algo de que me orgulho: quando eu digo que tudo o que acontece é para o bem, eu realmente acredito que seja para o bem.


Obs. Se esse post cantasse, cantaria No Woman No Cry. Quando eu era criança, achava que quando Bob Marley cantava "no, woman, no cry" estava querendo dizer: sem mulher, sem choro. Só depois da versão do Gil é que descobri: não, mulher, não chore mais.

coca-cola


"Para nós, simples mortais, 'eu tomo uma Coca-Cola ela pensa em casamento, uma canção me consola...eu vou...Por que não? Por que não?' Alegria da pura."

Nina Horta agora tem um blog!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

descobri


eu nasci para escrever no bloquinho, em uma tarde de segunda: rudá, euci, saturo, railda, mário pires e oirã. o resto é feijoada.

foto: Gaspar Gasparian

terça-feira, 10 de maio de 2011

Tatostado


Todo fim de almoço de sábado meu pai fatiava bananas, polvilhava açúcar e saía andando pela casa oferecendo garfadas às crianças da família. Se você dizia "não pai não quero" ou "não tio não", ele inevitavelmente levava uma garfada à sua boca, e quem come um naco de banana com açúcar come dois ou come três.
No café da manhã, fazia os melhores tostex. Uma loucura, o preferido dos primos e das amigas. "Tio Tato, faz um sanduíche?". Nunca nos revelou seu segredo, mas eu acho que tem alguma coisa a ver com colocar um pouquinho de requeijão antes de levar à chapa, jamais exagerar na quantidade de frios e caprichar no requeijão um pouco antes de servir.
Uma vez, nós cinco passamos o Réveillon no quadrado de Trancoso, quando ainda nem tinha se tornado esse hype elefante. Mas os preços dos restaurantes já eram abusivos. Meus pais deram voltas e voltas, espiaram cardápios, se entreolharam e decidiram: então nossa ceia vai ser no Tostex. As três crianças achando ótimo e eles com aquela cara de frustração por estarem comendo sanduíches na última refeição do ano 2000
(não chegaram aos pés das criações do meu pai, mas foi divertido).
No último sábado passei a noite esparramada no sofá com os dois e pedi algo que não pedia a ele há anos: pai, faz um tostex? Chegou o sanduíche perfeitinho, sem queimaduras, feito para ser mordido. Dá vontade de comer dois, três, comprar a Wickbold.
Meu pai também é o grande responsável pela minha fixação (e a dos meus irmãos) por queijos cremosos, molho branco, tem coisa mais amorosa que catupiry? Quando comíamos fora de casa, nunca era difícil decidir os pratos: três capeletes com molho branco. É assim até hoje.
Hoje meu pai comemora 53 anos e vai ter pizza e música clássica e piscina iluminada. Emprestado, que é mais gostoso - não precisa lavar a louça depois, nem guardar o violino.
E a você, meu pai, além de todas as coisas, desejo, em vez de pedras no caminho, pedaços de tostex recheados com aquele queijo que você mais gosta.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

quem é quem é


quem é do amor é mais simples
tem uma cara de nuvem
e não permite que sujem
o verde da sua relva


*Trecho de Quem é do Amor, de Sérgio Sampaio

Foto: Maureen Bisilliat

quinta-feira, 5 de maio de 2011

trem das 11


Esperando o trem no Paraíso a moça de 1,50 m e dentes separados sorri para as minhas mãos e diz: "O anel da princesa....". Subimos, há vários assentos livres mas ficamos em pé. "Esse casamento, eu não gostei...eu gostava da Diana. Essa aí....". Eu digo que a nova princesa da Inglaterra é mesmo uma garota sem sal perto de Diana, que tinha magnetismo, dramaticidade. Ela não presta a atenção em mim, está transportada para um espaço em sua cabeça com carregamentos móveis exclusivamente de Lady Di. "Eu gostava da Diana porque ela era boa, você via o jeito como ela olhava para as pessoas? Ela cuidava das pessoas". E o vestido de casamento dela era um glamour, minha mãe se casou com um igual. "A Diana saía de pijama e estava linda. Uma vez eu vi isso num programa de TV, a Diana com uma blusa de dormir. Linda". Falava olhando para o teto do trem, falava como se tivesse visto Diana de pijama na rua. O filho mais velho dela tá ficando careca, diz. Eu só saio com os mais altos, 1,92 m pra cima, diz - e não é porque quer, são eles que vêm atrás. Você vai descer onde? A porta se abre e ela salta. Mas sabia, eu digo a tempo, que esse anel pertenceu à Diana antes de ser da Kate? "É, então tudo bem", alivia para o meu lado. Sorri seu delicioso sorriso intercalado, a princesa das Clínicas.

Foto: do site Cellophane

quarta-feira, 4 de maio de 2011

giramundo


A vida é tão louca que capaz de o fusca ter morrido na frente do carro daquela senhora só porque ela tava quase cedendo à vontade da neta de comprar um fusca mas o fusca não era pra neta porque ela logo ficaria grávida e não dá pra colocar cadeirinha no banco de trás e a neta ganhou um corsa zero no sorteio da quermesse e o dinheiro do fusca acabou sendo usado para passar um mês na Bahia e na Bahia segurando nas mãos do menino ele viu um fusca azul e sorriu e ela pensou que bom seria ter uma máquina dessas e um dia ele teve e comprou o terceiro modelo da dona do fusca que comicamente o conduzia nesta manhã pela rua natingui e correu com os peitos pulando do vestido sem sutiã para pedir desculpas à sua avó.

Foto: Talita Nozomi

segunda-feira, 2 de maio de 2011

nécessaires


Só tirava o café o cliente estando na frente, não no banheiro ou buscando jornal na esquina. Não suportava a ideia de servir café morno.

Comprou linhaça porque a médica patricinha disse que é bom, mas nunca teve coragem de abrir o saco de alpistes.

Mãe, o que é expectativa? É a mãe não te responder essa pergunta.

Afagar bebê como se fosse gato. Acho que a gente acostuma rápido com tudo.

É melhor entender metade do que entender tudo sem poesia.

A rotina: levantar, sentar na cama, fazer o café, passar manteiga no pão, igual aqui ou no banlieu.

A rotina é muito melhor se a sala é meio nublada; o sol é invasivo.

A terapeuta ia ficar orgulhosa de mim, "não importa o formato o tamanho do vaso, mas as flores precisam de um vaso"

E, ontem ainda, aquela menina.

A gata com olhos espantados de gata de rua e o amigo riu quando ele disse que a gata tinha verme porque queria comida de gente

"espanta esse demônio!"

É isso que fica, um conto do Wander Piroli, o comentário espirituoso do amigo, um "amor você não sabe" mais alegre, uma xícara de café realmente boa, um filme delicado do François Ozon

Os filhos em casa, os pais no mundo

Deitar a cabeça no travesseiro e sentir confiança na vida em vez de medo
(e não porque tudo está perfeito mas porque você não pode contra)

Não preciso de certezas cruas, não quero mais ansiolíticos, posso esperar a mixirica ficar doce de novo

Eu sou aquela mulher no fusca verde. Ouvindo Cat Power

*Desenho: Helena