segunda-feira, 25 de junho de 2012

padim podim pudim


Ontem eu falei uma coisa que me agradou: eu só quero saber fazer um ótimo tempero, saber que pimentas misturar, mexer com as ervas, pra gente não precisar nunca usar um tempero pronto, nem uma pitada. Não sonho em saber fazer nada elaborado, quero fazer muito bem o básico, bifinho, arroz, feijão, abóbora, estando bem temperado não preciso de mais.
Aí eu fiz um pudim de leite depois do almoço. 
Naquela noite sonhei que fazia pudim e, como não preparava um há meses, já acordei decidida. Ele me deu uma mãozinha e foi buscar leite na padaria.
Pudim é assim pra mim: eu tenho que pensar três vezes antes de fazer um, primeiro porque demora pelo menos 1h45 nesse nosso fogão e depois porque essa mistura de leite, leite condensado e ovos me pone loca, desce tão desembaraçadamente que sou capaz de comer um pudim inteiro sozinha.
Em 2010, quando eu passei mais de 120 dias trabalhando na estrada, montada num Celta prata placa de BH, uma das minhas obrigações era comer. Café da manhã de hotel, almoço em restaurante, jantar em restaurante. Comer, quanto mais melhor, se der para pedir couvert, entrada, prato principal e sobremesa, melhor, afinal são mais itens para avaliar.
Parece um sonho, certo? Nos primeiros dias era bem legal mesmo. Mas, depois de uma semana, você trocaria qualquer banquete por uma sopinha rala de legumes e só. Vinte dias na estrada, três refeições fartas por dia todos os dias. Essa parte da comida me parece hoje que era a mais difícil de todas. Soa cabotino? Pois não é, compadre, comer cansa, deve ser por isso que o fim de semana só tem dois dias, se você quer saber.
Nesses dias de estômago pedindo trégua, e o dever te alfinetando o bumbum e dizendo você precisa experimentar, você p-r-e-c-i-s-a, sabe o que eu fazia? "Um pudim", eu pedia ao garçom, e sorria alforriada. O pudim chegava e eu comia como sempre em três ou quatro colheradas, sentindo aquela alegria conhecida. Era como se ele falasse olá sou eu, o pudim, você me conhece e você me adora fim.


foto: meu primeiro pudim, e até hoje o meu mais bonito.










sexta-feira, 15 de junho de 2012

Violeta come insetos para Neide

Reproduzo um texto da nutricionista, pesquisadora e amiga Neide Rigo, de quem sou fã mais que declarada. Fiquei aqui pensando o que poderia dizer sobre o texto, mas de repente minha boca se encheu d'inseto e não quero dizer nada. Só reler o que ela escreveu enquanto escuto Volver a los 17.


Violeta Parra não comia insetos


Por Neide Rigo


"Eu sou ruim pra línguas. Ler ainda vá lá, mas tenho péssimo ouvido e talvez por isto tenha casado com um otorrino, tenha filha otorrino, os dois bons de ouvidos. E eu aqui na suave ignorância, otorrino otochorano. De rir, sempre de rir. Depois de ter vivido meio século, cada vez mais retorno aos primórdios para aprumar o que foi sedimentado torto.  Às vezes é preciso voltar ao tempo e corrigir ao menos as imagens criadas a partir de distorções. Meu irmão Nivaldo era quem trazia pra casa discos de samba, de bossa nova, de rock, de protesto. Enquanto varria, areava, lavava e encerava,  registrava apenas alguns refrões que às vezes não faziam sentido algum. E quando ouvi Mercedes Sosa, no disco do Milton,  interpretando Violeta Parra, pensava sozinha com meus botões: coitada da chilena Violeta,  ter que comer insetos.  Assados na pedra? Mosquitos? Será que são bons? Será que são temperados? Tipo tepan yaki ou apenas servidos na pedra? Será que são criados só pra comer? Será que no Chile é comum comer insetos?  Ou seria porque ela era pobre? Talvez tenha sido a partir daí que comecei a pensar mais em comida, a  me  interessar pelo assunto. Nunca parei para aprender a letra desta música em particular. Nem nunca comentei com ninguém. Apenas salvei e segui em frente avoada, entendendo a vida como me era possível ouvir e imaginar. Mil vezes ouvi novamente a música, mil vezes imaginei uma pedra rústica de granito com mosquitos crocantes em cima, como fariam chefes modernos. Isto até ver, neste final de semana, o filme "Violeta foi para o céu". Vão ver, é emocionante (não mais que a rara entrevista dela que se segue - depois da música).  Só então a imagem foi confrontada. Quando apareceu na tela a letra, olhei assustada para o otorrino: Quer dizer que não é comer mosquito em la piedra? No, no, no, disse rindo,  é "como el musguito en la piedra, ai si si si"!  Caramba, pensei, isto muda tudo na minha vida. Tive que salvar como, porque os mosquitos ficarão pra sempre, e agora vou reconstruindo outros arquivos que dependeram daquele."





segunda-feira, 4 de junho de 2012

eclipse lunar


Em Paraty, tomamos banho de cachoeira, e de lua.