Onde foi parar a menina que usava rabo de cavalo com gel, o cabelo todo esticado para trás. Que nunca saía de tênis sem meia, orelha sem brinco. Tudo combinando, conjuntinho vermelho, camisa bem passada. As lições de casa todas entregues em dia, respeito ao próximo errei me desculpe, cola só depois da quarta série. Está na ponta da língua da mãe, está nos boletins, não há como negar. Todo começo de ano ela gostava de abrir o estojo novo com lápis apontador canetas novas e explicar para uma plateia invisível para que servia cada coisa. "Esse eu vou usar para marcar os textos", "essa borracha é boa porque não amassa o papel" - dizia em voz alta, e sentia como um alívio, então está tudo em seu lugar. Qual a semelhança dessa menina com a mulher de cabelo ondulado bagunçado, vestido amassado e all-star laranja com cadarço amarelo fluorescente, que casa sem papel e chama o manobrista de filho da puta? Às vezes eu tento, eu tento buscar essa menina, quando eu sinto que a mulher anda muito caótica, quanta roupa acumulou no cesto! E esse imenso lote de textos que ainda nem comecei a escrever?
Em que momento eu deixei essa menina caminhar sozinha e mudei a rota?
De quantas meninas ainda irei me despedir?
foto: jotabê medeiros/agência mon amour
Um comentário:
não conheci a menininha, mas a mulher caótica me parece bastante mais...nana.
te amo!
Postar um comentário