domingo, 7 de outubro de 2012

fubá das mulheres


Hoje aconteceu uma coisa maravilhosa. Vovó me pediu a receita de um BOLO. Trata-se do bolo de fubá da Neide Rigo. Terceira vez que fiz, dessa vez acrescentando uma calda de goiabada e um pouquinho de queijo parmesão ralado por cima de tudo.
Comecei a trabalhar na mesa para as tias e primas logo cedo, depois da votação.
Quer dizer, primeiro botei ordem na casa.
Veja, não existe bolo melhor que o da vovó. Emprestando uma expressão dele, "falo sério". Pergunte para qualquer um dos meus 19 primos Laloni se eles não carregaram a mesma prestigiosa alcunha na infância, "neto da vovó Teresinha, do bolo branco".
Quando tinha festa na escola os outros até podiam levar os bolos de suas avós, mas a maior expectativa sempre foi por aquele bolo da vovó Teresinha, bolo fofinho recheado de doce de leite e coberto por uma caprichada camada de uma espécie de marshmallow. Depois que fiz uma reportagem sobre suspiro e entrevistei minha avó, descobri que a cobertura tinha sobrenome aristocrático - merengue italiano. Depois que sujei o rosto de suspiro, descobri que a cobertura é aristocrática, geniosa e não faz voo sem escalas.

Uma vez, na escola, nalgum dia de 1995 - essa foi engraçada - lembro de estar diante de uma grande mesa cheia de bolos. Deviam ser bolos das avós. Eu estava na frente do bolo branco, que se não me falha a memória ainda por cima levava morangos. Seu vizinho era um bolo de fubá simples. O Rafinha, provavelmente neto da autora do bolo de fubá simples, disse alto, como se pra ele mesmo: "Só porque um bolo é mais bonito não significa que ele seja mais gostoso". É verdade, Rafinha. Mas...não desta vez, my friend.

Já fiz o merengue italiano mais de dez vezes, e posso dizer que acertei uma (ainda assim não ficou perfeito). Nesse dia, a menina deu uma colherada na tigela e fez aquela cara de felicidade espantada, de quando se reconhece um sabor distante muito querido. "É o creme que minha avó fazia pra mim!". A frase me matou, aí eu quis ouvir isso sempre, quis que ela se lembrasse da avó sempre, só que o suspiro deu certo essa vez e não deu mais do mesmo jeito.
Aí no domingo passado comprei duas dúzias de ovos e fiquei das 18h às 22h na cozinha batendo clara com calda de açúcar, lendo livros de receita e todos os resultados da busca "o segredo do merengue italiano". Foi um vídeo em espanhol, que mostrava o passo a passo da calda sem cortes, que me levantou a pestana: é isso! Entendi o suspiro (o que não significa que saberei fazê-lo sem mais errar; entendimento mútuo é apenas o primeiro passo para uma relação estreitar).
Hoje, em nosso encontro, a tia Cristiane disse que fez o doce de morango da vovó e achou tão maldito o ponto do merengue que decretou: "Sempre deixei o creme branco pra lá na tigela, agora vou comer todo, sempre, só de raiva". A gente se olhou com cumplicidade. A vovó não entendendo muito bem o porquê, pra ela é tudo muito simples.

Mas eu falava do fubá.
A vovó disse umas três vezes que o bolo era "maravilhoso" (e a tia Célia, que nem é muito chegada em doces repetidos, comeu mais de uma fatia; a tia Carol sentenciou "não dá pra comer um só").
E quando Teresinha pediu a receita, foi quase como a redenção do bolo de fubá do Rafinha.
Me senti tão honrada que fiquei sem saber o que responder, só abracei a vó forte, e disse: mas é claro! E depois, recuperada do susto: vó, se um dia eu preparar bolos que se parecem de longe com os que você prepara, já estarei satisfeita. E agora aqui em casa, a louça lavada, o garoto ouvindo The Thrill is Gone e as malas vazias prestes a serem preenchidas, eu me sinto a neta mais feliz do mundo.

Mas vó, sério: foi sorte (com uma colher de sopa de obsessão e mil xícaras de amor).

obs. Adiós, bolinhos, volto pra vocês em breve! Vou presenteá-los com uma espátula de verdade
obs. 2. Parabéns, Manô!
obs. 3. Vai, Haddad!

foto: Berinjota 



7 comentários:

Isabela Mena disse...

Aaaaaai que texto bom, do tipo açúcar e afeto (meu predileto, sempre!) <3

nana tucci disse...

Isa <3 <3 <3

eliane disse...

Mas coisa viu!!!
Essa sua intimidade com as palavras, confesso, me dá uma invejinha (boa). Pra sua avó é simples lidar com as receitas e pra você Nana, com as palavras. Consegue transformá-las e faz o que quer com elas. Poderia me passar a receita? Parabéns!

nana tucci disse...

Li, obrigada, querida, seus comentários são sempre tão carinhosos e alargam meu sorriso.
E você é sabida de panela e de palavras (ah, aquele cheesecake...!)

tatotucci disse...

nana que gostoso hj vc em casa!
Mano, Parabén
s.te enviei msg!!!bacio

manoela quintas disse...

boa prima! valeu

manoela quintas disse...

obrigada tio tato querido <3