terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pontilhado


Hay veces. Às vezes sou amarela, clara. Amarelo-claro, uma cor que ninguém usa. Às vezes sou mancha, ladrilho sujo pela chuva que passou. E ninguém limpou (eu não limpei). Às vezes sou curva, duas vezes azul, traços rodopiando descontroladamente feito bailarina aprendiz. Piscina. Às vezes sou como o chão da piscina, flutuante, às vezes só consigo ver usando as lentes da água. Às vezes não dá pra pisar, às vezes faço um risco aqui, outro ali, e paro no meio. Sou xadrez. Às vezes soy roja, e o contorno é tão nítido como a lua no céu de um sítio. Às vezes viro uma página em branco, um ladrilho virgem de cor. Às vezes desenho uma, duas, três flores, e faço uma só nascer. Sou mandala, redonda. Às vezes sou só a linha que passeia pelos ladrilhos gastos de ouvir. Às vezes acho que o vir-a-ser está aqui, mas ele mora longe, numa casa muito engraçada, sem teto, sem nada. Ser-a-vir. Às vezes sou poltrona macia e furada. Cadê? Às vezes coloco todos os ladrilhos na parede, e se falta algum vou à loja da Turiassú buscar. Às vezes vejo e guardo (o banheiro pode precisar de mais um). Às vezes deixo-me quebrar, quero a nudez das lascas. Às vezes escrevem em mim e faz cócegas. Às vezes me fixam na parede, me chamam de número, me apontam nas ruas. Às vezes sou os quadradinhos todos amontoados, sou um chute, um estalo, fogos de artifício. Um pontilhado de ladrilhos sem ponto de partida nem chegada, traçado todos os dias.

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