segunda-feira, 25 de abril de 2011

e.t


Ela tinha muito medo do E.T. Não podia ver meu E.T de pelúcia que saía correndo do quarto. Brigava comigo. Eu achava muita graça e, óbvio, adorava provocá-la. Esconder o E.T debaixo do travesseiro dela, esconder o E.T na estante atrás de outros pelúcias, e pular em cima da cama dela com ele quando as luzes estivessem apagadas.
Ontem vi uma imagem do bichinho, tão meigo, e tive um ataque de riso. Liguei pra ela na hora, meio rindo meio falando. Não disse nem oi, tudo bem? Só perguntei "meu, por que você tinha medo do E.T?".
Rimos muito, ela reafirmou que o E.T é horrível e assustador, e falamos de um assunto adulto: bebês. Ela acaba de virar tia. E eu, tendo sido tantas vezes e alternadamente seu Dom Quixote e seu Sancho Pança, e ela meu Dom Quixote e meu Sancho Pança, me senti também um pouco tia.
Deve ser isso que é crescer: um dia, rir do medo com a pessoa que mais te assustou, interromper o papo para falar de um assunto adulto e desligar o telefone subitamente porque a avó pediu para entrar na igreja e rezar uma ave-maria com ela.

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