sexta-feira, 15 de abril de 2011
tá morna?
Acho que é mais difícil escrever quando a água não tá muito quente nem muito fria - os dedos doem mais lá do alto do Monte Afadjato.
Ando aprendendo a gostar do morno. Dedilhar com a ponta dos pés a calçada torta, esperar a moça dar o troco sem impaciência, usar batom rosa sem querer impressionar, conseguir lembrar de tomar três vezes ao dia o remédio antroposófico, não se apreender com um e-mail apreensivo.
Hoje espirrei uma mentira boba com muita convicção, e tenho certeza que isso é culpa dessa fase morna: as costas me pesam menos...
Quando tá morno você só quer ficar com os pés lá, na bacia, espiando o noticiário e levando muito a sério a escolha do esmalte.
Uma ilustração do Sempé. Vestido estampa de pijama. Meio móbile pronto. Carinho no pé. Abajur em vez de lustre, talheres na caneca, telas de gato na janela. Uma palavra nova: basculantes.
Morno é bom, é curto, é curtido, quem não gosta, afinal, de água morna na cabeça, água morna esquentando as costas...?
Só não combina, jesus que não, perdoem-me os discípulos de Isabela Raposeiras, com café com leite. Este me traga espumado e desmoderadamente quente.
Foto: Jota
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