Nas primeiras poltronas havia duas senhoras. Uma, crente, com rabo-de-cavalo baixo, cabelo grisalho, viajando ao lado do marido que tinha fala mole e aparecia quase nada. A outra, de óculos e cabelo grisalho batendo no queixo, vi no escuro, mas notei ter olhos vivos e ambiciosos. Como acontece muitas vezes, as duas conversavam mas não se ouviam. O que uma dizia servia apenas de trampolim para a outra dizer alguma coisa, numa egocêntrica aeróbica oral. "Eu já tive uma chácara em Mairinque, eu choro até hoje de lembrar", falava uma, e a outra emendava "eu tive uma chácara em Osasco". "Tenho seis binetos"; "eu tenho 4"; "eu moro perto da Vila Yolanda"; "eu morei no Vila Yolanda sete anos". Não perguntavam mas porque você saiu de lá, mas quantos anos têm os seus netos, eram naturalmente indiferentes à história da outra. Pode ser que voltem para casa mais felizes e contem ao filho "você não sabe a coincidência, viajei ao lado de uma mulher que é paranaense e mora em Osasco", e talvez realmente tenham se alegrado com o encontro. Pode ser o meu espírito neste fim de manhã de segunda, mas achei aquele pano de fundo de um desbotado triste e só triste.
foto: hamsters do playing pet da rua fidalga
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