segunda-feira, 7 de maio de 2012

a virada do infinito


O melhor da Virada é sempre caminhar pelo Centro. Emociona não é pouco é pra caralho. Iluminado, habitado como merece, pelo mendigo, o noia, o casal indie, a trupe hippie, o Mario Botolotto, as amigas Suellen. No show do Gilberto Gil, uma hora lá do lado esquerdo do palco, em frente à Estação Julio Prestes, eu vi uma coreografia: um bad boy com dois cachorros pretos numa coleira, tentando se soltar e latindo para a mulher, que em vez de se assustar mandava beijinhos para os cães, e um catador de latinhas passando com um saco de lixo cheio delas, uma mulher com seus 50 e poucos encostada na mureta esperando Realce, as pessoas fazendo da árvore camarote e o malucão que veio caçoar a gente com um cartão telefônico, dizendo "já tem ingresso?". Foram dois dias bem estressantes pra gente, o universo parecia conspirar para dar tudo certo, só que ao contrário. Acabou o açúcar em casa e tivemos de adoçar o café coado com mel. Mas aí você escuta o Arnaldo Baptista cantando "sim, sou muito louco, não vou me curar". Vê seu garoto sorridente brincando de telefone de sucata, aqueles telefones feitos com barbante e duas latinhas (ou copos de plástico), e escuta ele cantando a vitória do Santos para a pessoa do outro lado "da linha". E ganha um adesivo "felicidade se acha é em horinhas de descuido", com a frase do Rosa. E vai ao banheiro do Teatro Municipal e flagra o desabafo de uma policial para outra: "E como esse chapéu aperta nossa cabeça? Chega a dar dor de cabeça". E encontra um menino lendo gibi durante o show Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Acha os Titãs uns animais e pensa como é que eles viraram esses babacas que são hoje, se eram uns animais, uns animais? Come um McChicken na calçada da 7 de Abril, toma uma cachaça verbal no Dona Onça com o Xico Sá, compra um tênis pirata Mad Bull na Galeria do Rock. Escuta a Flora Matos cantar o hino da mulher que descobre sua independência emocional após o término de um relacionamento. "Me apaixonei...por quem? Por mim", e você chora, com uma certa vergonha porque, porra, você está ali semi-profissionalmente, fotografando a mina. A Virada ilumina nosso Centro enfermo e nos transforma todos em rapazes latino-americanos de Belchior.

5 comentários:

el pájaro que come piedra disse...

eu me excedi...
sou muito louco, não vou me curar...

lindo texto, nanitcha

Anônimo disse...

Sempre bom demais menininha!!!

Juvenal disse...

eu fotografafa o lixo da virada. um frila fotografando o trabalho da limpeza. um outro universo. deu pra ouvir 4 do gil e 3 do bluzeiro gordo.

nana tucci disse...

Juvas, porra amigo, cê fez isso? Sensacional!

Rêveur disse...

esse texto tem vida menina. dá até pra se sentir na virada, ou na musica do belchior, tanto faz. mas respira juventude. ou exala, não sei.
parabens