sexta-feira, 15 de junho de 2012

Violeta come insetos para Neide

Reproduzo um texto da nutricionista, pesquisadora e amiga Neide Rigo, de quem sou fã mais que declarada. Fiquei aqui pensando o que poderia dizer sobre o texto, mas de repente minha boca se encheu d'inseto e não quero dizer nada. Só reler o que ela escreveu enquanto escuto Volver a los 17.


Violeta Parra não comia insetos


Por Neide Rigo


"Eu sou ruim pra línguas. Ler ainda vá lá, mas tenho péssimo ouvido e talvez por isto tenha casado com um otorrino, tenha filha otorrino, os dois bons de ouvidos. E eu aqui na suave ignorância, otorrino otochorano. De rir, sempre de rir. Depois de ter vivido meio século, cada vez mais retorno aos primórdios para aprumar o que foi sedimentado torto.  Às vezes é preciso voltar ao tempo e corrigir ao menos as imagens criadas a partir de distorções. Meu irmão Nivaldo era quem trazia pra casa discos de samba, de bossa nova, de rock, de protesto. Enquanto varria, areava, lavava e encerava,  registrava apenas alguns refrões que às vezes não faziam sentido algum. E quando ouvi Mercedes Sosa, no disco do Milton,  interpretando Violeta Parra, pensava sozinha com meus botões: coitada da chilena Violeta,  ter que comer insetos.  Assados na pedra? Mosquitos? Será que são bons? Será que são temperados? Tipo tepan yaki ou apenas servidos na pedra? Será que são criados só pra comer? Será que no Chile é comum comer insetos?  Ou seria porque ela era pobre? Talvez tenha sido a partir daí que comecei a pensar mais em comida, a  me  interessar pelo assunto. Nunca parei para aprender a letra desta música em particular. Nem nunca comentei com ninguém. Apenas salvei e segui em frente avoada, entendendo a vida como me era possível ouvir e imaginar. Mil vezes ouvi novamente a música, mil vezes imaginei uma pedra rústica de granito com mosquitos crocantes em cima, como fariam chefes modernos. Isto até ver, neste final de semana, o filme "Violeta foi para o céu". Vão ver, é emocionante (não mais que a rara entrevista dela que se segue - depois da música).  Só então a imagem foi confrontada. Quando apareceu na tela a letra, olhei assustada para o otorrino: Quer dizer que não é comer mosquito em la piedra? No, no, no, disse rindo,  é "como el musguito en la piedra, ai si si si"!  Caramba, pensei, isto muda tudo na minha vida. Tive que salvar como, porque os mosquitos ficarão pra sempre, e agora vou reconstruindo outros arquivos que dependeram daquele."





2 comentários:

Neide Rigo disse...

Nana, obrigadíssima! Também descobri que não é "gracias a la vida que me amarro tanto...".
beijos, N

Isabela Mena disse...

Ótima ideia ter postado aqui (já reparei que faço do meu blog minha memória, meu google, meu arquivo morto e vivo!). Porque esse post dela, E DE NOVO, é demais!
beijos nanita!