terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Dicas para um bolo imperfeito


- Lavar a batedeira, as xícaras e as várias tigelas e colheres que se usam para fazer um bolo é infinitamente mais rápido do que lavar a louça do almoço. É um mistério.

- Nunca haverá espaço suficiente para acomodar todos os utensílios que serão usados  para fazer o bolo  porque você pode ter uma cozinha cenográfica mas vai se apegar a um determinado cantinho e ficará tudo acumulado ali.  Bolo é sinônimo de bagunça.

- Por mais cuidadoso que você seja, sempre haverá vestígios de farinha pela cozinha, desista. Cozinha boa é cozinha suja.

- O melhor jeito de diminuir a ansiedade para tirar o bandido do forno é achar alguma coisa para fazer enquanto ele assa.

- Mas nunca, nunca abandone seu bolo nos primeiros 20 minutos de forno. São os primeiros sete anos de vida de uma criança! Eu costumo não sair da cozinha antes de completados 20 minutos.

- Se uma receita deu certo, não faça como eu e fique testando outras loucamente, fique com ela e seja feliz. É o que pretendo fazer depois que essa fase passar.

Às vezes seu marido vai achar que você enlouqueceu (ele vai esquecer depois da primeira garfada).

- Não conte a sua avó que você anda fazendo esses testes, ela vai achar um absurdo. Avós, de maneira geral, nunca aprenderam a fazer bolo e nem imaginam como esse processo é trabalhoso, já nasceram sabendo.

- Você vai cometer todos os erros possíveis. Em algumas ocasiões vai até identificar que está errando no ato, mesmo assim vai até o fim. O negócio é que provocar a massa, diminuir a canela, peneirar hoje amanhã não, açúcar cristal em vez de refinado, ovos meio gelados, sem esse exercício de liberdade, irresponsabilidade e teimosia não se formam boleiros péssimos, ótimos nem medíocres.

- Não se contente com um bolo medíocre. Pra mim tem sido assim: em média é preciso fazer a mesma receita quatro vezes para chegar ao resultado desejado.

- Piores catástrofes: 1 - errar o bolo de banana na véspera e no dia do aniversário dele; 2 - assar o bolo da festa dele junto com os pés do novo fogão;  3 - perceber que o bolo de laranja está crescendo além da forma, tentar tirar o excesso com uma colherzinha enquanto o bolo assa e ainda assim deixar metade do bolo de laranja grudado no forno. Colocar o bolo no forno sem fermento, esquecer o óleo, exagerar na cenoura, esquecer o açúcar, não lembrar se já colocou duas xícaras de farinha ou só uma....

- As grandes vitórias guardo comigo como ingredientes secretos que me acompanham a cada nova mistura. 

- Se a sua gata se aproximar de você durante a feitura é um ótimo sinal. A Abacaxi é minha crítica mais honesta.


- Todas as etapas são prazerosas, mas de tudo o que mais me alegra é a hora de acrescentar a farinha. E mexer...

- Aprendi que relaxar é diferente de se distrair. Relaxar fazendo bolos é permitido, se distrair jamais.

- Antes de colocar um bolo no forno, na hora em que abro o fogão e vem aquele calorzão, eu paro um instante, olho pro bolo e lhe desejo “boa sorte”. Porque todo bolo é uma aventura, mesmo que você já saiba a receita de cor, use ovos na temperatura ambiente, peneire os ingredientes secos, possua um belo forno e tenha um fermento estalando de novo.

- Viver é perigoso, fazer bolos também é. Mas não há erro, sujeira ou tempo perdido que não tenha deixado a casa cheirosa e a forma cheia.



Nota: Devo esse post a um homem que, por amar muito bolo quente de manhã, fez nascer em mim a vontade de aprender a fazer um. 
E a uma  grande cozinheira que tem sido para mim nada menos que a Árvore Generosa.


foto: meu quarto bolo de cenoura, feito hoje



2 comentários:

katia michelle disse...

Lindo como brigadeiros feitos em festas para aniversário de gato adotado (e que não se sabe ao certo quando ele nasceu).

marcia micheli disse...

a casa cheirosa que constrói paredes de algodão no coração de quem chega, quem passa e quem está por ali, - independentemente do bolo dar certo ou errado -, prá mim, é o melhor...