sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Enchanté


"You know, happiness has many colours”, ela disse, já no fim da apresentação, e trouxe uma canção sobre “breaking up”. Smile, it’s ok. Faz tudo parecer leve, a Madeleine, apesar de cantar com acuidade canções incrivelmente tristes.

De cabelão longo aloirado, ela abriu o show com Instead, música de seu novo disco, Bare Bones. Instead é deliciosa, parece que fica tocando o show inteiro, nas entrelinhas. “Be happy that she’s your home”, ela canta, e eu penso: como eu gosto da nossa casa.

Depois veio Bare Bones. Don’t cry, baby, don’t cry. Era tristinha a letra, mas tive vontade de rir. Ri. “O que?”, a Vivi perguntou na hora. Até agora não tenho idéia.

Uma funcionária da limpeza observava, quase hipnotizada, encostada na parede com a vassoura em mãos, Madeleine Peyroux pronunciar com perfeição enchanté, embalada por palmas e gritinhos da platéia (tinha uma garota um tanto quanto histérica, um rapaz nada educadamente pediu para ela calar a boca).

O pessoal se empolgou muito com a Madeleine francesa. “Ah, l’amour...” – uma frase batida que, na boca dela, não tem nada de banal. Talvez porque a felicidade de Madeleine não seja óbvia, digestiva, ela não está interessada em servir ao público um p.f de lições sobre o amor. Tem algo de selvagem, arisca, parece o tempo todo meio incomodada.

Tira e põe o chapéu, diz mais de uma vez "saudade" e esforça-se para elogiar a platéia em português. “It’s too much”, diz. Em seguida, ela mesma traduz. “É demais!”. Não é a tradução mais correta, mas é, sem dúvida, a mais graciosa.

Fechou o show da maneira como abriu, com Instead. Se alguém não entendeu o recado, Madeleine reforçou com o bis: Smile.