domingo, 8 de novembro de 2009

trilogia das cores


Virgínia estava muito gripada, mas não cancelou o show. Apareceu com cabelo curto vermelho, boca pintada de preto e vestido branco. Cada peça que nos prega essa vida, parecia até que tinha participado do último Círculo de Mulheres e ouviu aquela que adora ser esquisita dizer que todas as nossas transformações passam por essas três cores. Primeiro vem o preto, o medo-medão, escuro. Mas o que vier eu assino, disse o Leminski. Depois nos vestimos de vermelho, aparece a dor, que só de escrever dói, mesmo se você não tem nada para doer agora. E então surge o branco, branco espuma, o que vem não sei, mas "é bom que eu sinto". Assim disse a Talita, minha amiga que foi comigo ao Círculo e só tinha de ser com ela: naquele dia, contaram a história de uma mulher costureira. Talita sabe costurar magistralmente e não só suas belas bolsas com tecido de quimono. Pois por último vem o branco do vestido de Virgínia, mulher camaleoa, Aretha Franklin baiana que me trouxe Salvador e a força de quem perde a voz, mas não o lirismo. Apresentando um disco com esse nome, Recomeço, só podia mesmo estar de branco, e eu só podia estar lá vestida de flor e rodando sozinha no palco, por todas as minhas relações, que é como a gente diz antes de entrar na tenda quente e beijar o chão de terra. Que bom que o mundo é circular.

Um comentário:

Juvenal disse...

...e por onde andarmos sempre estaremos no centro do mundo.