sexta-feira, 30 de julho de 2010
sabonete, mulheres, coturnos brancos
“Eu preferia o outro sabonete”. Imagino uma mulher bonita, com cabelos lisos bagunçados escorridos, olheiras leves e um dos dentes incisivos ligeiramente tortos. Na frente dela, um cara de coturno branco que a conquistou naquela festa naquele dia, ela dançando sozinha de shortinhos azul turquesa, um presente da avó que ela ganhou e pensou nunca, mas nunca vou usar isso. “Eu preferia o outro sabonete”. Ela chora, ele blasé não entende nada, mas é o fim, com essa frase chega ao fim o romance ideal, ela sempre odiou números pares mesmo, e romances, e shorts de cores idiotas. Quem tem um coturno branco?
Imagino uma mulher não muito bonita, mas muito jovem. Acorda com os cabelos lisos ainda úmidos. Pelada, na cama, observa seus pés. Se espreguiça fazendo os movimentos de um tatu-bola. O cara de coturno branco a espia e ela sabe. Sorri pra ele, levanta, vai até o banheiro, observa seus olhos inchados, as olheiras parecendo traços de delineador de tão marcadas. Lembra do sabonete de lavanda italiano que não comprou na farmácia, um naco gigante pesado e caro. Porra, 20 conto? Lava o rosto com o resto de Dove e diz, sem que ele pudesse ouvir (mas, se ouvisse, compreenderia imediatamente, ele sempre sabe).“Eu preferia o outro sabonete”.
Entrei no banheiro e ela, como de costume, estava lá. Só que rompeu a habitual mudez de quem passa o dia no banheiro ouvindo barulhos esquisitos, e disse: “Eu preferia o outro sabonete”. Tentou consertar a máquina, sem sucesso. Fechou a porta e foi almoçar, o relógio do computador marcava 10h30 da última sexta de julho.
Foto: Memo Vasquez
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