sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Attraversiamo?


É claro que é um filme apelativo, sem carne nem queijo, sem recheio, com chavões até a borda e frases superficiais de livro panfletário de auto-ajuda. Mas, além de ser uma delícia de assistir, por trás dessa coisa hollywoodiana toda de comer na Itália, rezar na Índia e amar em Bali, o filme tem um efeito terapêutico.

A protagonista, Liz Gilbert (Julia Roberts), quer o que todos nós queremos: encontrar sua paz. Para isso, engrena em uma viagem de um ano, seguindo à risca as previsões de um guru.

Uma das partes que mais gosto é aquela em que ela surta porque não consegue se livrar da angústia de não saber ao certo quem é e o que quer no mundo. Um cara sábio do templo indiano vira pra ela e diz: “Ah, você quer paz? Ninguém consegue a paz assim, só por querer. Tem que gramar muito”. Também adoro quando, na pizzaria napolitana, sua amiga se recusa a comer um pedaço de pura mussarela derretida e Liz se agita: “Eu vou comer, sabe por quê? Porque eu cansei de ter culpa. Cansei de ficar medindo meu corpo no chuveiro. Eu não tenho interesse em ser obesa, mas hoje eu vou comer o que quiser, sem culpa”. Eu também cansei de sentir culpa, uma banana pra culpa!

Em um fim de tarde, o mesmo amigo que aconselhou Liz no templo a leva a uma silenciosa cobertura de um prédio abandonado, e sutilmente ordena: “Só saia daí quando tiver se perdoado”. É bonito o jeito como ela pede perdão para o ex-marido. Acho que a gente se auto-penitencia tanto que nem reconhece mais quando o faz. Muitas angústias são na verdade resultado dessas culpazinhas peroladas que carregamos no pescoço.

Agora, a derradeira cena: depois de conquistar seu tão esperado equilíbrio interior, Liz se apaixona. O que pode ser mais desequilibrante do que estar apaixonado? Ela então recua e, para seu espanto, o guru de Bali discorda: “Mulher, viver o amor sem moderação também faz parte do equilíbrio”.

Como diria o camarada da diagramação do Estadão: “Que delícia!”

2 comentários:

katia michelle disse...

Nana, vc não sabe! Estava aqui prontinha pra escrever sobre aquela cena em que ela está no terraço e deve perdoar o ex. Gostei tanto daquilo. Daí entro aqui e vejo isso!!! Adorei. Saudade! bj!

nana tucci disse...

Mi!!! Jura? É ótima, né? Vira e mexe ela me vem à cabeça. Acolher nossos sentimentos é, sem dúvida, a melhor saída.
Pronta para cianortar daqui duas semanas?
Quero ver seu cabelo