terça-feira, 22 de março de 2011

miolo do pão


Debaixo de uma chuva de estalactites e estalagmites, demos os braços e saímos dançando e cantando "estamos no miolo no pão, estamos no meio do pão...", no ritmo daquela musiquinha da Varig, "para um pouquinho, descansa um pouquinho...".
Nós duas olhamos para o céu da caverna e nos sentimos dentro de um pão. Você não acha que...? Eu acho. Dieta de palavras, abundância de entendimento. Muitas risadas. Tenho uma certeza de rainha que nunca ri e nunca mais vou rir tanto tão frequentemente em minha vida. Eram lágrimas todos os dias. Eu e minha risada de cavalo - como brincam as amigas -, queixo inclinado para cima e sorriso de aparelhos fixos.
Na mesma viagem ao Petar engoli seco quando uma menina sentou-se ao meu lado no refeitório só para contar que "80% do acampamento está dizendo que você está se achando". Aguentei firme ela dizer infanto-barbaridades cruelmente intercaladas por longas mastigadas. Soltava uma pergunta do tipo "sabe o que as pessoas estão falando de você?", e dava uma garfada. "Estão falando que...", e dava outra garfada.
Escutei tudo, sem reagir, terminei o jantar e fui chorar no banheiro.
Foi um furdunço. Alguém avisou a professora que eu tinha virado faca de cebola e a professora baixou no quarto junto com a causadora dos soluços que, vendo o estrago, improvisou alguma desculpa (ou quem sabe, vai entender os pra-quês da idade, ficou sinceramente sentida). Lembro da menina me abraçando no banheiro do meu quarto e, o rosto, aquela vermelhidão.
Eu e minha cúmplice de risadas fomos melhores amigas por um ano, depois seguimos cada uma seu pontilhado. Não lamento, foi um grande encontro.
Engraçado é que tinha tudo para ser o ano mais choramigão da minha adolescência, mas por uma dessas curvas da vida acabou sendo o oposto.
É essa a graça, né?
Mesmo que casualmente bata uma vontade imensa de morar no pão francês do meu café da manhã.

Um comentário:

Rê Salmeron disse...

Meu Deus,otima surpresa!
Doces lembranças, sinto falta!
Beijo grandeee Nanis!!