quinta-feira, 28 de março de 2013

Ao tempo, com carinho


Cheguei perto do laguinho com tartarugas, me agachei e cutuquei a água com o dedo indicador, para chamar a atenção das meninas.
Veio uma, vieram duas, três.
Quando eu ia me aproximar delas para tentar acarinhá-las, afundavam mais ou nadavam até a outra margem.
Pacientemente repeti o gesto algumas vezes e deixei que se acostumassem com aquele dedo invadindo suas águas calmas
Por um momento achei que nunca conseguiria tocá-las, e pensei:
bom, mas não é assim mesmo a vida, a gente nunca consegue tocar o tempo
embora conheça esse cabrão de longa data
conhecemos bem seu balanço, seus truques, sua aridez, sua potência. 
Mas então quando eu menos esperava uma tartaruga ergueu a cabeça e deixou que eu a tocasse, como faço com Abacaxi e Jovelina
E de repente as outras começaram a erguer a cabeça também
E eu fiquei ali, fazendo carinho nas tartarugas nadadoras, completamente feliz
A cadela boxer de cinco meses da Flavia, que é a dona do lago e a dona da casa, é minha testemunha.

*
Talvez o tempo, esse soberano, precise que a gente faça um carinho nele de vez em quando

Tomar café expresso bom é muito bom, papear com a comadre, dar beijinho na boca
Mas hoje eu tenha certeza que eu dei o melhor de mim foi para essas tartarugas.


Nota: as tartarugas são da Flavia Figueira, artista plástica & cabeleireira. Se você nunca cortou o cabelo com ela, é altamente recomendável. 




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