segunda-feira, 25 de março de 2013
Vitamina
Uma das melhores pessoas que conheci nos últimos tempos foi o Vitamina.
Como de hábito, fui a pé até o Sacolão buscar duas ou três coisas que faltavam em casa
Como de hábito, ele disse "não volte com caixa, ok? sacolinhas, traz só o que precisa"
Eu nunca consigo trazer só o que precisa porque acho que o feijão faz tanta falta quanto o creme de leite que é tão importante quanto a farinha de trigo.
(e pode faltar tudo exceto flores, mas flores não matam fome, pelo menos não a do estômago)
Então, obviamente, quando fui guardar as compras na caixa, não deu para acomodar em uma só. Para levar tudo sozinha até em casa eu precisaria ter uns três braços a mais. Apelei para o entregador
"Moça, eu moro aqui nessa rua, tem como contratar o serviço de um entregador?"
Assumiu o posto o Vitamina
*
Fomos caminhando até minha casa orquestrados por aquele tec-tec-tec do carrinho de supermercado rolando no asfalto
A calçada, como a maioria das calçadas de São Paulo, era estreita demais para um carrinho de supermercado, então descemos pela rua mesmo,
incomodando os carros apressados.
Vitamina tem esse apelido porque quando era mais jovem almoçava uma dúzia de bananas por dia
Matavam sua fome, não sentia falta do arroz com feijão, que comia à noite.
Diz que o corpo não sofria não, com 12 bananas por dia, tudo funcionava nos trinques.
Vitamina tem um jeito de falar olhando pra cima ou para os lados, nunca fixa os olhos nos seus. Só quando você faz uma pergunta é que te olha, mesmo assim é uma olhadinha envergonhada.
Vitamina fala sorrindo como se tivesse dois pregos, um em cada canto da boca
Eu gostaria de fotografar o sorriso do Vitamina.
*
Meses depois, dias atrás, estava no caixa do Sacolão e o cartão não passou. Tentei o de crédito e o de débito, nada. Não tinha jeito, tive de desistir das compras. Quando me dirigi ao empacotador para me desculpar pelo trabalho à toa, era o Vitamina.
"Ei, Vitamina, é você!" - ele estranhou minha reação alegre e não me reconheceu, mas sorriu.
A mulher do caixa surpreendentemente era paciente e gentil, e propôs: "Vamos tentar passar o cartão mais uma vez?".
Eu tirei umas coisas e a gente passou o cartão de novo mais umas duas vezes, mas não rolou.
A cada nova tentativa frustrada, o Vitamina repetia a frase "não tem problema nenhum, essas coisas acontecem com todo mundo, é a coisa mais comum que tem".
Esvaziava as sacolas e tirava de mim um peso enorme que nada tinha a ver com o conteúdo das sacolas.
*
Confio demais nas pessoas, e claro que muitas vezes caio em ciladas. Mas o Vitamina, eu sabia de cara que o cara era legal demais.
*
Só não sabia que o apelido tinha ganhado vida própria. Vitamina me encheu de energia.
foto: Neide Rigo
Nota: Depois que esse post foi escrito consegui ir ao Sacolão e pegar o necessário, somente o necessário o extraordinário é demais :)
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Um comentário:
por isso é que essa vida eu vivo em paz! grande balu.
(não lembrava do começo: ouça, o negócio é o seguinte, seu pimpolho hahaha)
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