quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

monte cipreste


Por que uma mulher estaria parada há 10 minutos no carro, sozinha, mexendo em um celular com uma canetinha? Dois mini-humanos me observavam sem disfarces. A menina trouxe um brinco de princesa para mim. "Você acredita", disse, como quem fala com as mãos na cintura, "que tem essa flor na nossa casa?" - e se apresentou. Eu, cansada, última pousada da cidade com mais pousadas do roteiro, parei. O irmão, coberto de responsabilidade, naquela idade em não se sabe ser adulto nem mais criança, cutucava a irmã, precisava tratar um assunto sério comigo. "É importante para a nossa família, deixa eu explicar para ela, por favor, para de falar". Ela ria, não vê o mundo com divisórias, passava o dedo no carro sujo de lama e me olhava intrigada. Os três sendo observados por um cipreste. O menino então me puxou pelo braço e me levou direto para a sala de tv nova: "Não tá demais essa sala que meu pai fez?". Tá demais, se aqueles dois me dissessem jiló não é demais, estrada de terra molhada e esburacada não é demais, eu responderia sim, é demais. Uma hora, a menina lembrou de um caso. Como uma autêntica contadora, exigiu que sentássemos, "vamos lá naquele banco que eu te conto", prometeu. "Um dia a gente viu nosso gato querendo subir numa árvore que tinha dois esquilos, um deles era filhote. O filhote ficou bravo e começou a discutir com o gato, levantava o dedo para ele e falava uma língua estranha". Eu, com aquela maldita preocupação automática de determinar que parte é real e que é inventada, perguntei sem querer, para o pai: "É sério?". Já ela, muito mais esperta, não quis saber o que eu fazia com aquele celular o tempo todo, o que era aquilo de verdade e o que não era. Apenas soltou, no fim: "Eu achava que era um joguinho".

Um comentário:

Anônimo disse...

no meio do caminho tinha uma pedra...
iêêêêêêê!!!!!