quinta-feira, 1 de abril de 2010

manja


O post que a Neide fez sobre os agnolotti me trouxe um sentimento: é por isso que eu amo comida. Um depoimento do italiano Carlo Petrini deixou-a desejosa por fazer uma massa com recheio de sobras. Então ela tirou do freezer um pedaço de coxa e sobrecoxa de frango assado e foi juntando o que tinha na geladeira. “Um punhadinho de salsa já amarelando, talo e tudo, uma tira de pimentão vermelho e um pedaço de queijo duro. Ainda não seria suficiente, então fui ao quintal e peguei uma pimentinha das ardidas, umas folhas de capiçoba, outras de alfavacão e alguns brotinhos de ora-pro-nobis”. Eu amo comida porque agnolotti nunca é apenas agnolotti, porque orecchiette pode não ser a massa mais irresistível do mundo, mas eu raspei o prato e pedi mais no banquete que o italiano Massimo promoveu em homenagem ao encontro acidental de uma neta de bareses com uma família baresa. E quando perguntei se ele mesmo tinha feito a massa, mentiu que sim, e a mentira também é culpada pelo sabor dos orecchiette, tanto quanto o jeito como ele passou o pão no molho de tomate, igual meu pai faz. Os orecchiette desciam como se nem fossem comida, a leveza quase absurda das grandes refeições. No fim, Massimo mandou trazer fatias de melancia. Me contou que é assim que um barês encerra o dia, comendo uma melancia - há carrinhos e carrinhos nas ruas carregados da fruta. Enquanto empurrava a semente pra lá com o garfo, viajei longe, imaginei becos com senhores de boina e seus carrinhos vermelhos servindo jovens, crianças, avôs, a água escorrendo, um ou outro sujeito mais sem noção cuspindo a semente no chão como uma espingarda Rossi cuspindo bala. Desde então eu, que nunca morri de amores por melancia, comecei a namorá-la nos cafés da manhã e achá-la uma fruta das mais simpáticas.

Um comentário:

Neide Rigo disse...

Nana, querida, que bom saber que uma inspiração puxa a outra. Eu sou dessas que cospem as sementes de melancia, sempre em algum jardim. De repente nasce, penso. Outro dia nasceu uma coisa, que achei que pudesse ser uma melancia, no meu quintal, e era um cruá, cuspido sabe-se lá quando. Beijo grande, lindo seu blog, que não conhecia. Saudade, N