sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Dunas
Conversei com o German Lorca há alguns anos. Sentamos os dois no hall de seu estúdio na Vila Mariana e ele tinha pressa. Falava muito de fotografia. Sim, óbvio, mas mesmo quando eu fazia perguntas diretas sobre sua infância no Brás, sua rotina, ele pegava um atalho e divagava sobre a profissão.
Foram inúmeras tentativas de desviar o assunto, sair do círculo que alguém demarcou no chão e chamou de furo e que pode tornar um bate-papo comercialmente útil e amaciar o ego, mas anular toda a beleza que sempre existe em qualquer troca.
De tudo, ficou pouca coisa (o tempo às vezes funciona como o braço distraído que apaga o que já foi escrito na lousa enquanto a outra mão dá continuidade à história). Mas uma das lembranças continua muito fresca, e acho que nunca vai desgrudar de mim.
O caso era mais ou menos assim:
"Certa vez observei, numa obra, talvez algum prédio que seria erguido em São Paulo, que uma luz fazia um movimento fantástico num monte de areia de fundição. Fotografei. Quando mostrei para as pessoas, perguntando o que achavam que era, todas respondiam, maravilhadas: 'São dunas!'".
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