segunda-feira, 10 de agosto de 2009

solte os cachorros


Alguém anda sarapintando as sextas-feiras. Numa dessas desses últimos tempos, me chamam na portaria mostrando uma caixinha do Sedex. Dentro tem uma camiseta bacanérrima e mais mineira impossível, estampada assim: “O que é uai? Uai é uai, uai!”. Um livro de prosa da Adélia Prado (caramba, bem no dia em que me emprestaram Poesia Reunida, duas Adélias no mesmo dia é muita sorte para uma pessoa só), um simpático enxuto guia de cidades mineiras e uma das mais belas cartas que recebi em toda a minha vida. Por quê? Quem? Porque existem motoqueiros que esbarram em seu espelho e engatam marcha ré para arrumá-lo, porque existe uma cozinheira que gasta seus únicos 10 mil francos para servir Veuve Clicquot 1860 para as filhas de um deão. Porque existem pessoas que rejeitam toda e qualquer mesquinharia, que pegam tudo de vil e pequeno que humanamente pensam e sentem e deixam de lado, como a criança que escolhe esse brinquedo e aquele não. Porque tudo é uma questão de escolha e é muito fácil culpar os outros pelos seus tropeços, como se só existissem rasteiras, pegar sombra azul emprestada e passar nas pálpebras para esconder as próprias olheiras. Mas existem pessoas que transformam vaidade em edadiav e dão risada, imitando a menina do chapéu amarelo de Chico Buarque. Dersus Uzalas perdidos na cidade, eu encontrei um. Mara, com quem conversei não mais que umas cinco vezes por não mais que uns cinco minutos durante uns poucos dias no Caribe, viu a camiseta, pensou em mim, escreveu pedindo meu endereço, trocamos algumas palavras, ficou com vontade de mandar mais coisas, foi até o correio e mandou. “Solte os cachorros, mas sempre com sabedoria e bom humor” escreveu na dedicatória, a dedicatória que a vida já rabiscava no meu bloco (e a coleira já deslizando das mãos).

*esse post é dedicado à mineira de Sabará Elemara Duarte, e a todas as suas crianças que ela diz alimentar com leitinho quando na verdade alimenta com palavras mágicas, todos os dias.

Um comentário:

poesia potiguar disse...

ah, que dia você teve, hein, mulher?

vivas à Adélia e às amigas que não precisam mais do que cinco minutos para "ser"!