
Eu não me conformava, ela conta, rindo, eu tentei te persuadir, te perguntei dezenas de vezes se você tinha certeza de que era isso mesmo que queria, e você respondia que sim, sim, mãe, é isso. Bom, o caso não era grave. Depois de meses deixando a franja crescer, acordei com vontade de ter franja de novo. E de cortar o cabelo bem curtinho. Acho que era o dia do meu aniversário de 9 anos, comemorado na garagem da querida casa situada na rua do poeta português. O Fike, nosso cão boxer, não parava de latir e a Bia ainda era um bebê loiro gorducho que dançava e sorria toda vez que alguém cantava "digue digue dom digue dom dom dom..." (ela cresceu e virou um mulherão, mas continua não gostando de beijos e grudes).
A vida toda foi assim: nunca tive medo de cortar o cabelo. Uma vez ficou terrível, curto demais para as ondulações e provavelmente ousado demais para a tímida garota. "Está parecendo uma maneca!", disse a cabeleireira. Ganhei um apelido na escola. Cogumelo. Uma foto 3x4, que já quase joguei fora umas milhões de vezes ― mas recuo porque acho a maior graça ― comprova o estrago. A verdade é que passei por isso sem grandes traumas.
Não me lembro de ficar horas e horas no banheiro secando o cabelo ou de andar escondida pelos cantos, chorosa. Também não jurei que jamais usaria o cabelo curto de novo, já fiz isso um bocado de vezes. E ainda bem que eu cortei franjinha aquela vez porque deve ter sido a última.
Só para minhas barbies, coitadas, é que os cortes foram definitivos (mas a Bia deu uma ajeitada nelas e então formaram-se lindas famílias de blond barbies super ultra radicais).
Foto: Furtada do blog da Lolita, uma indicação da Tata
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