quarta-feira, 8 de julho de 2009

Refresco de sorel


Serviu refrescos de sorel e depois cantou baixinho uma cantiga que eu já conhecia. É indígena? É. Vestia florido, como o viveiro que criou para não deixar os curaçolenhos tomando só sopa de kadushi. Buscou plantas nativas, tem um adorável pé de cabaça na frente da loja onde vende sua medicina. Dinah Veeris, que Rogério apelidou de Mãe Dináh. Passou gel de uma folha no pé de picadas do Sandro e serenou o enjoo da Zainer. Canta para as plantas quando elas estão morrendo. É para acalmá-las, alguém diz. Na verdade, é para trazê-las de volta. Dinah me botou na tenda, lembrei da paz que sinto em Pedra Bela, o silêncio roseano: a gente mesmo, demais. Quis chorar. É indígena essa canção, Dinah? É. O jardim Den Paradera é gigante e ela tem de tomar cuidado para as gulosas iguanas não acabarem com tudo. Sem contar que aqui chove muito pouco, como vocês veem, mas tem um poço antigo, aprendi umas coisas com minha mãe, tenho meu filho e minha nora me ajudando, ela diz. Dinah tem uma concentração monjal, a doçura dos passarinhos do Janchee's. Meu corpo parecia que sentava na cadeira preenchendo precisamente o espaço. Foi como encostar a cabeça no ombro dele, observar o movimento de sua boca ao descrever algo que o indignou (e escrever é irresistivelmente inútil, como também é inútil jogar pequenos balões de palavras no ar quando o coração vira um leão). Todo mundo deveria visitar Dinah Veeris, nem que saia de lá só com um chazinho ou um refresco. Nós demos sorte – saímos com os dois, e a chuva que repousava há três meses no céu de Curaçao.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi Gio,

Saudades de vc. Do "meu" mais bonitinho que já ouvi de um paulista. Adorei o texto, sereno como vc.

nana tucci disse...

E eu voltei toda capixaba, falando "cê tá entendendo?". Que mensagem boa, Zainer, querida. Volte sempre! Beijos