sexta-feira, 17 de julho de 2009

taramelear


Fiquei com vontade de comer a cera. "Um dia eu tava derretendo o açúcar antes da depilação e a cliente bateu na porta e nem pediu, afirmou: 'Eu preciso comer isso aqui, tá muito bonito'. E comeu!", conta a manicure Lúcia, que desejava sinceramente colorir minhas unhas de grafite nesta manhã.
Também fiquei com vontade de me encher de pulseiras, brincos e colares dourados e barulhentos, como a Layale.
Caramelo mostra mulheres à beira de um ataque de nervos, menos ataques e mais nervos.
A diretora do filme, Nadine Labaki, vive a Layale, que eu ainda posso ver dedilhando a janela, esperando o carro dele estacionar na frente do Si Belle.
Cada mulher do salão em Beirute pinta as unhas de uma cor, e mesmo que você nunca tenha pintado as suas de grafite, reconhece o tom.
Tem aquela que se submete a uma cirurgia para não ser desmoralizada e enervar o noivo (que pede que ela feche a camisa e esconda as argolonas da orelha em jantar familiar). Tem aquela que sabe o que quer, mas parece faltar coragem para pular no rio com deboche de criança. Tem aquela que suja a saia de vermelho para se sentir mulher, tem aquela que não consegue desconcentrar o amor na irmã maluquete. E tem aquela que espera e quando percebe que ele não vem, com dor e sem amargura muda de esmalte.
Do quarto barato de motel ao jardim florido do casamento, elas estão sempre juntas, arrancando sorrisos quando a boca pesa mais de 1 tonelada.
Me emocionou muito a cena em que a mãe segura nas mãos da filha prestes a se casar e, com uma ingenuidade macia de algodão explica que uma nova fase de sua vida vai começar, que a princípio vai ser estranho, mas que tudo irá se ajeitar com o tempo. "Você vai ser a melhor mulher", e a filha chora, chora a blusa que teve de ser abotoada, chora a sala de cirurgia, tanta coisa. E a mãe chora de volta num entendimento mútuo totalmente oblíquo e, por isso mesmo, perfeito.
Uma mild soap opera, um filme com uma tremenda feel good atmosphere, escreveu a gringaiada.
Eu não sei, eu só sei que, da próxima vez, a cera não me escapa.

Nenhum comentário: