quinta-feira, 16 de julho de 2009

stein


"(...) Quantas vezes já ouvi Picasso dizer-lhe, depois que ela faz alguma observação sobre um quadro seu, exemplificando com alguma coisa que estava procurando fazer: racontez-moi cela. Traduzindo em miúdos, me explica isso melhor. Sentam em duas poltroninhas baixas, lá em cima no apartamento dele, os joelhos se tocando, e Picasso diz: expliquez-moi cela. E eles explicam, um ao outro. Falam de tudo, de quadros, de cães, de morte, da tristeza. Pois Picasso, sendo espanhol, encara a vida de maneira trágica, amargurada, triste. Às vezes, Gertrude Stein desce, vem ter comigo e diz: Pablo estava querendo me convencer que eu sou tão triste quanto ele. Insiste que sou e pelas mesmas razões. Mas você é?, pergunto. Bem, não acho que tenha cara de triste, tenho?, e dá risada. Ele diz, ela conta, que não tenho porque sou mais corajosa, mas não creio, afirma, não, acho que não sou."

*A autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein

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